SONHOS E ENCANTOS

SONHOS E ENCANTOS

quinta-feira, abril 30, 2020

Minhas memórias de menina/ moça










E foi para este hotel, no centro do Rio de Janeiro que o carro fretado pelo sogro, conduziu uma menina de olhos espantados e coração sobressaltado. E os dias ali passados foram de encantamento e alegrias. Era uma criança, experimentando os vestidos e sapatos, escolhidos à dedo para a lua de mel...

e os passeios aos lugares mais refinados, jantares em restaurantes requintados, cabeleireiros no hotel, manicures e ao redor a paisagem maravilhosa que sempre a deslumbrara.
Hotel Serrador, um endereço privilegiado, hotel das misses e dos políticos, sonho de todas as amigas. (E de nossa menina também)

O Hotel Serrador, inaugurado na década de 40 com seus 22 andares, no centro do Rio de Janeiro, foi um ícone na vida social e cultural da cidade, principalmente entre os anos 50 e 70. Mais tarde, passou a ser a sede da fundação Petros. No final da década de 80 caiu no esquecimento, e ficou desativado e abandonado por quase 15 anos.

Desde 2003, o velho Serrador está renascendo, passando por obras de recuperação e modernização. Deverá contar com 500 quartos e área de lazer na cobertura, com piscina, academia e restaurante panorâmico. A previsão do término desta obra é para o 2º semestre de 2004.
Situado em plena Cinelândia, dele se avistava a Praça Paris, onde se viam as mais belas obras de arte em escultura e um jardim impecável. Era uma época em que os jardins e praças, bem cuidados e exuberantes, eram respeitados e ainda não existiam vândalos nem pichadores...

A Praça Paris, uma das maiores da cidade, surgiu em 1929, foi erguida sobre um aterro, em princípio ia da Avenida Rio Branco e Beira Mar até a Rua da Glória, posteriormente foi encurtada para dar lugar à Praça Marechal Deodoro da Fonseca. A Praça foi concebida como uma jóia da "belle époque", construída quando era Prefeito do Distrito Federal Antônio Prado Júnior, entre 1926 e 1930. É numa das maiores concentrações de esculturas a céu aberto do país, contendo diversos bustos, estátuas em mármore das estações dos anos e um espelho d'água. Na época da construção do Metrô a Praça foi completamente destruída, mas foi reformada a partir de 1992, quando seu charme foi restaurado.
Praça Paris



 Próximo ao Hotel destacava-se o prédio imponente da Mesbla,referência de bom gosto e refinamento.

 Instalado na torre do edifício em 1955, acompanhando a celebração do Congresso Eucarístico Internacional, o relógio eletrônico é o terceiro maior do mundo em tamanho. Seu mostrador, com nove metros e meio de diâmetro, é sustentado por uma torre de cem metros de altura. Marcava e anunciava a hora de 15 em 15 minutos e  tocava a Ave Maria pontualmente às 18 horas. Por décadas, as pessoas que ali passavam acertavam os relógios olhando para a torre da Mesbla.

    No alto do prédio havia o Restaurante Mesbla, panorâmico, e o Teatro Mesbla, local de muitos sucessos. Também no teatro, nos anos 60, a culinarista e jornalista Maria Tereza Senise - que depois ficou conhecida como Maria Tereza Weiss  - deu aulas de culinária muito concorridas, patrocinada pelo jornal O Globo, sendo um sucesso especial as aulas para crianças.
Ali faziam as refeições, no belo restaurante panorâmico,desfrutando a vista maravilhosa e os sabores delicados e finos.

 Fez questão de conhecer o Edificio Avenida que seria demolido naquele ano para a construção do Edifício Avenida Central. Uma joia da arquitetura demolida, para dar lugar ao "progresso"e a um espigão...

No blog "É o Rio que mora no mar", encontrei esta referência ao Hotel Avenida, que reproduzo como curiosidade:

O Hotel Avenida - onde em seu lugar está hoje o Edifício Avenida Central -  foi um dos mais populares edifícios da Avenida Rio Branco. Ele ocupava uma quadra delimitada pela Avenida Rio Branco, Largo da Carioca, Rua São José (desaparecida neste trecho) e a antiga Rua de Santo Antônio, atual Bittencourt da Silva.

Localizado nos números 152 a 162 da Avenida Central era propriedade da Companhia Ferro-Carril do Jardim Botânico e foi construído em terreno adquirido à Fazenda Nacional por Francisco de Azevedo Monteiro Caminhoá. Tinha 3.200 metros de área total,  60 metros de frente, 22,85 metros de altura geral sobre o solo e 34,30 metros de altura máxima. 

O Hotel Avenida foi inaugurado em 1910. Tinha 220 quartos, iluminados a luz elétrica, e também oferecia aos hóspedes o conforto do elevador. Na época de sua inauguração, a diária mínima era de 9 mil réis.


O Hotel Avenida foi demolido em 1957 para dar lugar ao Edifício Avenida Central, projeto do escritório de arquitetura Henrique Mindlin, inaugurado em 22 de maio de 1961 .  


  • Uma curiosidade:
    A destruição do hotel inspirou um longo poema de Carlos Drummond de Andrade, intitulado "A um hotel em demolição", do livro A Vida Passada a Limpo, de onde reproduzo alguns versos.

"Vai Hotel Avenida,
vai convocar teus hóspedes
no plano de outra vida.
Eras vasto vermelho,
em cada quarto havias
um ardiloso espelho.
Nele se refletia
cada figura em trânsito
e o mais que se não lia
(...)
Vem, ó velho Malta
saca-me uma foto
pulvicinza efialta
desse pouso ignoto.
Junta-lhe uns quiosques
mil e novecentos
nem iaras nem bosques
mas pobres piolhentos

(...)
Velho Malta, please,
bate-me outra chapa:
hotel de marquise
maior que o rio Apa.
Lá do assento etéreo
Malta, sub-reptício
inda não te fere o
super edifício
Que deste chão surge?
Dá-me seu retrato
futuro, pois urge
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E me despeço, prometendo que na semana que vem voltarei.

          Bjssssssssssss




quarta-feira, abril 29, 2020

Sonho de Cinderela/Minhas Memórias de Menina



MEMÓRIAS DE UMA SENHORINHA




E nossa menina está prestes a iniciar um novo ciclo em sua vida, mas antes disto ainda vai preparar o seu último Natal de solteira... inquieta-se com os preparativos, perde-se em pensamentos, e, ao mesmo tempo, cuida para que tudo saia a contento: o presépio, decorado com esmero... papel amassado e coberto com purpurina, imitando pedras; manjedoura coberta com palha, espelho imitando um lago (não sei o porquê deste lago perto do presépio) um burrinho e uma vaquinha e as imagens de Nossa Senhora e São José ladeando o Menino Jesus... todos os anos era ela a encarregada deste ritual e o cumpria com alegria... este ano, como seria o último, dedicava-se mais, mas havia uma certa melancolia que teimava em aparecer, perturbando-a.
 Cuidou para que tudo ficasse impecável e que sua tristeza (porque, meu Deus!) não interferisse em sua "criação".
E o Natal chegou! Seu presépio ficou lindo,todos elogiaram e ela esqueceu aqueles momentos de inquietação...
Foram à Missa do Galo, trocaram presentes e a alegria do irmão, que ainda acreditava em Papai Noel, a todos contagiou... mas, nos olhos do pai ela sentia uma nuvem a pairar... eram muito ligados os dois, apesar de não terem o hábito de falar de seu amor... mas este se manifestava em todos os gestos e atitudes, no modo com que ele segurava sua mão, ao passearem pela rua, no seu abraço protetor ao saírem, no seu modo carinhoso de colocar a lí ngua na ponta do nariz (ninguém consegue isto, viu?) no jeito de estufar a bochecha pedindo-lhe beijo... estes eram os sinais e os ritos de um grande e terno amor.

Após o Natal e o Ano Novo (não tinham o hábito de festejá-lo), uma nova empreitada a esperava,os últimos preparativos para o casamento que seria em Maio, o mês das noivas, romanticamente escolhido por ser o mês de Nossa Senhora, o mês das coroações, dos monsenhores em flor e das rosas em profusão... a igreja estaria engalanada e ela queria muitas rosas brancas em todos os bancos.

Começou a correria, às costureiras, bordadeiras,  sapateiros e sapatarias... belos lençóis de linho sendo bordados, vestidos para todas as ocasiões, sapatos forrados pelos sapateiros e outros escolhidos a dedo nas sapatarias para combinar com os trajes. Ah, e bolsas combinando com os sapatos...
E anáguas de algodão, com barras de organdi, anáguas que seriam engomadas para serem usadas com as saias godés, franzidas ou plissadas.
Muitas vezes, se fazia necessário usar não uma, mas várias anáguas para obter o efeito desejado. Abaixo, o autêntico vestido dos anos 50 e as três anáguas que, usadas juntas, dão o efeito desejado:


                                                       E para se usar um vestido rodado, fazia-se necessário o uso de várias anáguas, por vezes feita de um tecido mais armado,quase um entretela...

 E ainda havia as combinações, camisolas longas e bordadas, robes, pijamas de seda e de cambraia, corpetes e mil outras pecinhas que compunham um enxoval de uma menina dos  Anos Dourados.

E o mais importante, o vestido de noiva, que ela queria clássico, sem frufrus, nem pérolas ou rendas... com seu rostinho de menina ficaria bem melhor em um vestido à la Audrey Hepburn, mas não, ela queria parecer mais velha e escolheu um vestido de cetim, bem colado ao corpo até a cintura e com uma saia ampla, sendo preciso toneladas de anáguas para preenchê-la.

E chegou o grande dia! Igreja adornada, pajens lindos em suas roupinhas de adultos... o irmão e uma sobrinha do futuro marido... e convidados à postos esperando a sua entrada, a menina (Cinderela?) e o seu príncipe, cobiçado pelas vizinhas e amigas???, por ser um "bom partido", pertencente a uma das mais tradicionais famílias da cidade.
 
 Sua alegria transparecia no sorriso e no olhar... seus sonhos de ter uma família, sua perspectiva de uma união"até que a morte os separe", estava se concretizando... o futuro estava se abrindo para ela que chegava, pisando devagarinho para não assustar a dona Felicidade. E o desejo maior de ter muitos filhos, uma casa repleta dos ruídos de vozes infantis, uma mesa alegre, onde a conversa seria uma fonte de perguntas e informações, e onde nada se escondia, a sinceridade seria a tônica de seu relacionamento com os filhos.

E assim transcorreu a cerimônia, com estes pensamentos a povoarem a sua romântica cabecinha.
Após o casamento a festa em sua casa e ela, atordoada,nem provou os salgados e docinhos... a vó, zelosa, fez um pratinho para ela levar na viagem.
Carro à porta, ela se trocou, beijou os pais e irmãos e partiu, rumo ao desconhecido...





Eu vou,
mas voltarei...aguardem!



segunda-feira, abril 27, 2020

quinta-feira, abril 23, 2020


Minhas memórias de menina 


Uma borboleta, presa às paginas de um livro, o livro da sua vida... era como se sentia a nossa menina, nesta fase meio menina, meio mulher, quando se abandonam os brinquedos e as brincadeiras, mas o medo do desconhecido começa a surgir...

As amigas já começam a fazer os enxovais, as conversas já tomam outros rumos...
onde ficou a infância, os folguedos, o não pensar em coisas sérias, a feliz inconsequência? E a melodia que mais escutava a lembrava
 de uma nova realidade:

Menina Moça
                             Tito Madi
Você botão de rosa
Amanhã já flor mulher
Joia preciosa cada um deseja e quer
De manhã banhada ao sol
Vem o mar beijar
Lua enciumada noite alta vai olhar
Você menina moça
Mais menina que mulher
Confissões não ouça
Abra os olhos se puder
Tudo tem seu tempo certo
Tempo para amar
Coração aberto faz chorar
A lua, o sol, a praia, o mar
Missão de Deus
A vida eterna para amar

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A vida corria lá fora e os anos dourados fervilhavam:

Os anos 50 foram marcados por grandes avanços científicos, tecnológicos e mudanças culturais e comportamentais. Foi a década em que começaram as transmissões de televisão, provocando uma grande mudança nos meios de comunicação. No campo da política internacional, os conflitos entre os blocos capitalista e socialista (Guerra Fria) ganhavam cada vez mais força. A década de 1950 é conhecida como o período dos "anos dourados".
Principais acontecimentos dos Anos 50
Esportes
Realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, em 1950. O Uruguai sagrou-se campeão após vencer a seleção brasileira, em pleno Maracanã, pelo placar de 2 a 1.
A FIA (Federação Internacional de Automobilismo) organiza o primeiro Campeonato Mundial de Formula 1, em 1950.
Em fevereiro de 1951, começam os primeiros Jogos Pan-Americanos. O evento esportivo ocorre na Argentina.
Realização das Olimpíadas de Helsinque na Finlândia (1952).
A Alemanha torna-se campeã da Copa do Mundo de Futebol na Suíça (1954).
Juan Manuel Fangio torna-se bicampeão mundial de Formula 1.
Em 29 de junho de 1958, o Brasil torna-se, pela primeira vez na história, campeão da Copa do Mundo de Futebol. O evento ocorreu na Suécia.
Ciência e Tecnologia
Em 1957, o Sputinik II coloca em orbita da Terra o primeiro ser vivo, a cadela Laika.

Comunicações
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A TV Tupi, inaugurada em setembro de 1950, é o primeiro canal de televisão da América Latina.
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Lançamento do primeiro satélite, o Sputinik I (1957).
Guerras e Conflitos
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Começa a Guerra da Coréia em 25 de junho de 1950. A guerra termina em 27 de julho de 1953.
Em plena Guerra Fria é assinado, em 1955, o Pacto de Varsóvia (tratado de defesa militar que envolvia os países socialistas do leste europeu, comandados pela União Soviética).
Em 1959, ocorre a Revolução Cubana. O líder da revolução, Fidel Castro, torna-se presidente de Cuba.
Começa, em 1959, a Guerra do Vietnã.
Cultura e Arte
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No dia 20 de outubro de 1951, é inaugurada a I Bienal Internacional de Arte de São Paulo.
Política
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Em 6 de fevereiro de 1952, Elizabeth II torna-se rainha da Inglaterra.
Em 24 de agosto de 1954, ocorre o suicídio do presidente do Brasil Getúlio Vargas.
Em 16 de setembro de 1955, um golpe militar na Argentina tira do poder o presidente Juan Perón.
Em outubro de 1955, Juscelino Kubitschek (JK) é eleito presidente do Brasil.

Economia
Criação da empresa estatal Petrobrás, em 1953.
Assinado o Tratado de Roma, em 1957, estabelecendo a Comunidade Econômica Européia (CEE).

Música
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Com muito rock e um estilo dançante, Elvis Presley começa a fazer sucesso em 1956.
A estilo musical brasileiro Bossa Nova começa a fazer sucesso. Os maiores representantes deste movimento foram: Tom Jobim, Vinícius de Morais e João Gilberto.
No final da década de 1950, é formada a banda de rock Beatles.
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E nossa menina-moça cursava o Normal , aprendia a ser uma professora, profissão de grande importância na época. Não era o seu maior sonho, mas na cidade só havia dois cursos, o Normal e o de Contabilidade. Como o pai era professor na Escola de Comércio do Colégio São Paulo, estava fora de cogitações o referido curso... era muito rebelde e o pai não desejava perder a autoridade perante os alunos. Sem outra alternativa, matriculou-se no curso Normal e continuou em seu Colégio Santa Marcelina.
Havia compensações: as mesmas amigas, as freiras habituais, o Curso de Pintura com a amada Ir.Julieta e as brincadeiras após as aulas.

Nas aulas de trabalhos manuais, aprendia-se a bordar e as amigas começavam a preparar os enxovais... Peças e peças surgiam e todos admiravam... lembra-se do "sem jeito mandou lembrança", mote usado por todos de sua casa quando tentava fazer algo mais delicado ou se atrevia a tentar alguma receita... e não consegue passar de um avental, com ponto richelieu na barra...
Já nas aulas de pintura se destacava e pintou ruínas, céus de todos os tipos, amanheceres e crepúsculos, rosas, orquídeas e violetas... sua paixão pela natureza a conduzia e seus quadros se multiplicavam.
A professora predileta era a de português e com ela mergulhava nos livros,na enorme biblioteca do colégio.

Como dizia Angel Vianna, "gente é como nuvem, sempre se transformando", a nossa menina passa por nova transformação: começa a namorar "sério"... aos dezesseis anos, quando deveria estar às voltas com as amigas, delas se afasta e passa a sair só com o namorado que vai buscá-la em casa e levá-la, não passando ainda do portão. Deixa de sair nas férias com os pais, ficando em casa com a avó, guardiã de sua inocência. Começa a frequentar a casa do futuro sogro e a discutir com as cunhadas questões de enxoval, de prendas domésticas e criação de filhos... uma criança no meio de pessoas adultas e procedendo como tal, ou, pelo menos, tentando.E baús são abertos, preciosidades em linho, cambraia, seda e bordados de todo tipo desfilam perante seus olhos acostumados a uma vida simples e pacata.

E nossa menina vivia um sonho... teria um final feliz? 

Aguardem e na próxima semana saberão................. Bjssssssss

segunda-feira, abril 20, 2020

MINHAS MEMÓRIAS DE MENINA


E o tempo,este dono e senhor absoluto de nossos destinos, passou e trouxe em seu bojo a primavera...


..e chegou setembro,esperado e temido porquanto  seria o arauto de sua completa alegria ou de sua extrema decepção...


E nossa menina contava nos dedos os dias que faltavam para a Exposição Agro Pecuária  de Muriaé,data combinada para a visita de seu "príncipe",de olhos azuis e sorriso doce,como doces também eram suas palavras.

Esperava uma carta ou um telegrama,confirmando a sua vinda,mas nada chegava...todos os dias aguardava a chegada do carteiro,que passava por sua porta e não parava.Uma carta a faria feliz...mas esta carta não chegou  e seus sonhos desmoronaram como um castelo de cartas.Quieta pelos cantos da casa amargou a sua decepção.Não havia contado à mãe e não teve coragem de fazê-lo agora...a razão de sua tristeza,o seu desencanto,o sonho perdido ficaram guardados só para ela.

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No Colégio ensaiavam o Hino da cidade,que seria cantado em sete de setembro e ela se entusiasmava cantando e orgulhosa por saber que o mesmo havia sido composto por uma freira de sua amada escola.
Hino de Muriaé
Letra: Cândida Theodoro Cerqueira
Música: Lourdes Santelli
Florescendo num trecho risonho,
deste grande e lindo país,
Muriaé tu nascestes do sonho,
de um povo heróico e feliz.
Muriaé, terra querida,
por um sol todo ouro banhada,
por um sol todo ouro aquecida,
Serás sempre por nós venerada.
Em São Paulo, tiveste Padroeiro,
que tua sorte, fiel governou,
transformando teu solo em viveiro,
onde sempre a virtude medrou.
Muriaé, pelo bem e o dever,
o teu povo labuta a sorrir,
pra gozar do perene prazer,
de gloriosa vitória a luzir.
Continua a subir sempre mais,
pela a senda do bem e da glória,
escrevendo com áureos sinais,
frases lindas em nossa história.
Salve, terra de Minas heróica,
de imortal e feliz tradição,
fulgirás na flâmula histórica,
através de um rico brasão.

A autora do hino era sua querida professora, Irmã Cândida ,doce e meiga freirinha,cujos olhos sorriam e lhe iluminavam a fisionomia como se mil estrelas sorrissem.
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E a data da Exposição se aproximava e os preparativos para a festa eram o assunto das meninas...os vestidos para os bailes, os animados passeios que fariam, os namorados, e ela se calava quando este era o assunto... mas uma das amigas,a sua querida Lucina, a quem ela fazia as mais intimas confidências, lhe dizia que não deveria se amofinar por alguém que não a merecia, um amor se esquece com outro e mais todas estas frases feitas que se costuma dizer nestes casos... então ela se convenceu e resolveu que iria a todas as festas. (não pensem que foi fácil, mas ela era teimosa, lembram-se?).

Costureiras, preparem-se, pensou e no dia seguinte já estava na casa de Lacyr, sua amada costureira,a encomendar vestidos para a festa. Ainda não se usava calça jeans, traje mais apropriado para uma Exposição deste teor, as meninas iam de vestidos rodados e sapatinhos de salto, afundavam os delicados calçados no saibro, mas não perdiam a pose... e eram elegantes, magras e lindas.
A entrada da Exposição em uma foto da época,dá para avaliarem como era o local:



E no recinto do evento o que encontravam:
 E no dia da abertura, vamos encontrá-las todas, após a aula,ainda de uniforme, o que era rigorosamente proibido pelas freiras, a passear pelo recinto, percorrendo as baias dos cavalos, admirando as vacas holandesas como se grandes entendidas fossem deste assunto.

E à noite, com seus lindos vestidos, seus batons cor de sangue, suas unhas pintadas de vermelho, o parque de exposição era o palco de seus sonhos... e o sonho comum a todas elas era encontrar um John Wayne ou um Clark Gable, de preferência em um belo cavalo branco...
E foi neste local, em uma noite estrelada que ela conheceu o seu futuro marido... foi uma pirraça, um acinte ao tão esperado dono dos olhos azuis? Foi esta a intenção, mas o namorado (não se "ficava"simplesmente, quando uma menina e um rapaz se encontravam e ele a levava em casa, já era namoro), era tão gentil, tão educado, que ela esqueceu rapidamente o seu "príncipe".
Ele era fazendeiro e pertencia a uma tradicional família da cidade. Usava ternos brancos de linho e sapatos irrepreensivelmente lustrosos. Alto,com um bigode à Clark Gable, tratava-a como uma princesa e referia-se a seus pais como "o senhor seu pai e a senhora sua Mãe", como só se via nos romances de Machado  de Assis. E a menina se encantou pelo rapaz mais velho, que dirigia seu próprio carro e deixou que ele passasse a dirigir o seu destino.
Serão felizes? O tempo o dirá.
Lembrem-se que ela era uma romântica incorrigível, como, aliás, quase todas as meninas de sua geração ...

Esta era a família de sua futura sogra. 

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Eu vou,mas voltarei...
na próxima semana.

sexta-feira, abril 17, 2020

Minhas memórias de menina





 Flores eram sua paixão e cuidava delas com alegria,desvelo e mil cuidados...

.................os mesmos que tomava com o irmão, pequeno e frágil... e todas as noites a encontrávamos cantando para ele dormir as doces canções que ouvira um dia da avó.
 E se desdobrava em cuidados, como se ele seu filho fosse... e corria em busca do médico da família, ao menor sinal de febre ou dor do irmãozinho... preocupava-se tanto quanto a mãe e dedicava uma parte do dia a brincar e contar-lhe histórias.


Mas nem tudo era colorido e nem tudo eram flores na vida de nossa menina... uma fase conturbada surgiu para perturbar seu sono e seus sonhos... o namorado, aquele que parecia um príncipe, em sua charrete e seu cavalo branco, começou a beber e este,naquela época, era um vício inaceitável, principalmente pelo pai, enérgico e severo, que nunca havia bebido e não concordava mais com o namoro... nunca se havia manifestado  mas agora era totalmente contra.
Já falei, anteriormente, sobre a obediência das meninas daquela época às ordens paternas e maternas.Nossa amiguinha não fugia à regra, mas tentou manifestar a sua opinião, no que foi prontamente rechaçada pelos dois... não poderia mais continuar aquele namoro e, pronto, estava decidido. Lágrimas, pedidos, nada adiantou... e as colegas também partilhavam as ideias paternas e vinham aconselhá-la e tentar fazê-la entender que nada poderia existir de bom em um relacionamento com um "beberrão".
Ela se opunha a estes conselhos, tentava argumentar até o dia em que ele mesmo veio lhe provar que a razão estava com todas estas pessoas que lhe queriam tanto bem... envolveu-se em uma briga em um bar e isto nem ela poderia aceitar. Foi para casa e concordou com os pais ,que lhe haviam proposto uma viagem para a casa da tia que morava em Carangola.Adorava a tia e sentia que lá haveria de esquecer este episódio de sua vida...
E, malas e bagagens prontas, lá se vai a nossa menina, para a casa de sua querida tia Ruth.

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A casa da tia

Antes de falar sobre a casa propriamente dita, preciso lhes apresentar a cidade de Carangola

Localização

Situada na encosta do Planalto Atlântico, Carangola está a leste do estado de Minas Gerais, pertencendo a mesorregião da Zona da Mata.
A posição geográfica de Carangola polariza a atenção de diversos municípios, dada a sua excelente estrutura de prestação de serviços, um significativo comércio e um latente processo de industrialização, recebendo influência de Belo HorizonteRio de Janeiro e Juiz de Fora.
O município de Carangola está constituído atualmente pela sede e pelos distritos de Alvorada, Lacerdina e Ponte Alta de Minas. Carangola é circundada pelos municípios de Divino e Espera Feliz, ao norte; Caiana,Espera Feliz e Faria Lemos, a leste; Fervedouro e São Francisco do Gloria, a oeste, Pedra Dourada e Faria Lemos, ao sul.
A igreja onde foi batizada

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A cidade de Carangola, era para ela a terra onde moraram os avós paternos, durante a sua infância... a avó tão querida e o vovô/padrinho, sempre em sua memória. Voltar à Carangola... era voltar para os braços roliços da terna vovó Alzira, era relembrar o bisavô João Carlos, alegre e brincalhão e o avô, alto e magro que a levantava em seus braços e a fazia se sentir uma princeza. As histórias do avô, que acordava os empregados da fazenda com seu grito forte: "Olha o café!" e se vangloriava de não precisar de sino em sua fazenda... o café servido a todos os colonos na cozinha da fazenda, com as broas de milho, os biscoitinhos de nata e polvilho, os pães assados ali mesmo e o leite quentinho sobre o fogão à lenha.
Os causos do Chico Moleque, do pai e dos tios barulhentos e alegres, o circo que era montado na fazenda para divertir os colonos e suas famílias (mas ele não dava só o circo, dava o pão, a fartura e o companheirismo), os bailes, a venda... só a fazenda de meu avô e suas histórias dariam um livro e dos bons!

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Mas o avô e a avó já não habitavam esta terra,

estavam em fazendas do outro lado da vida.
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E nossa menina chegou a Carangola, sem mágoas do pai ou da mãe, ela já cultivava o hábito de não deixar a tristeza fazer moradia entre os caracóis de seus cabelos e gostava do  "jogo do contente" da Pollyana...

A tia recebeu-a com uma enorme alegria e um lindo sorriso (ela não se lembrava da beleza daquele sorriso), abraçou-a com carinho e ofereceu-lhe não só a casa mas o colo, o afeto, a ternura...
Era época de Exposição Agro Pecuária e isto significava passear durante o dia no Parque de Exposições e à noite os bailes no Clube da cidade. E a tia providenciou trajes de festa, sapato de salto seis e meio, carteira social e o mais importante: companhia, um par para dançar!!! O cunhado da tia estava na cidade e seria o seu acompanhante e cicerone durante o dia. Alto, olhos azuis, sorriso maroto, era como se realmente um príncipe se houvesse materializado... nesta idade as grandes paixões são esquecidas e dão lugar a outras, com uma facilidade incrível.

À noite, a tia, tal qual uma fada madrinha, a vestia e enfeitava e nossa menina,radiosa e feliz, partia para o baile, não em uma carruagem,mas em uma camionete Chevrolet verde, que não se transformaria em abóbora...
E com um príncipe ao seu lado!!!


E aprendeu a dançar e os boleros,valsas ,baiões, a   faziam rodopiar pelo salão... um samba canção dolente a conduzia e embalava com seus acordes doces a provocar-lhe suspiros... e era como um sonho.


Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda- Lamartine Babo
Eu sonhei . . .que tu estavas tão linda . . .Numa festa de raro esplendor, Teu vestido de baile . . . lembro ainda: Era branco, todo branco, meu amor ! . . . A orquestra tocou umas valsas dolentes, Tomei-te aos braços,  fomos dançando, ambos silentes . . . E os pares que rodeavam entre nós, Diziam coisas,  trocavam juras a meia voz . . .
Violinos enchiam o ar de emoções E de desejos uma centena de corações . . . P'ra despertar teu ciúme, tentei flertar alguém, Mas tu não flertaste ninguém ! . . .Olhavas só para mim, Vitórias de amor cantei, Mas foi tudo um sonho . . . acordei ! . . .

Mas não era um sonho e ela rodopiava e se sentia em um conto de fadas...

E se passaram os dias e o doce convívio estava quase a terminar... não houve um pedido formal de namoro, mas ele prometeu que a visitaria em setembro... e ela se foi, com o coração apertado, mas com a convicção de que a primavera seria um marco em sua vida.


 Eu vou, mas voltarei, amigos........................

Bjsssssssssssss

Minha querida e linda sobrinha Marcela, A vida é uma eterna ciranda a nos conduzir prá lá e pracá... e em uma destas voltas viemos para Tere...

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