SONHOS E ENCANTOS

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segunda-feira, abril 20, 2020

MINHAS MEMÓRIAS DE MENINA


E o tempo,este dono e senhor absoluto de nossos destinos, passou e trouxe em seu bojo a primavera...


..e chegou setembro,esperado e temido porquanto  seria o arauto de sua completa alegria ou de sua extrema decepção...


E nossa menina contava nos dedos os dias que faltavam para a Exposição Agro Pecuária  de Muriaé,data combinada para a visita de seu "príncipe",de olhos azuis e sorriso doce,como doces também eram suas palavras.

Esperava uma carta ou um telegrama,confirmando a sua vinda,mas nada chegava...todos os dias aguardava a chegada do carteiro,que passava por sua porta e não parava.Uma carta a faria feliz...mas esta carta não chegou  e seus sonhos desmoronaram como um castelo de cartas.Quieta pelos cantos da casa amargou a sua decepção.Não havia contado à mãe e não teve coragem de fazê-lo agora...a razão de sua tristeza,o seu desencanto,o sonho perdido ficaram guardados só para ela.

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No Colégio ensaiavam o Hino da cidade,que seria cantado em sete de setembro e ela se entusiasmava cantando e orgulhosa por saber que o mesmo havia sido composto por uma freira de sua amada escola.
Hino de Muriaé
Letra: Cândida Theodoro Cerqueira
Música: Lourdes Santelli
Florescendo num trecho risonho,
deste grande e lindo país,
Muriaé tu nascestes do sonho,
de um povo heróico e feliz.
Muriaé, terra querida,
por um sol todo ouro banhada,
por um sol todo ouro aquecida,
Serás sempre por nós venerada.
Em São Paulo, tiveste Padroeiro,
que tua sorte, fiel governou,
transformando teu solo em viveiro,
onde sempre a virtude medrou.
Muriaé, pelo bem e o dever,
o teu povo labuta a sorrir,
pra gozar do perene prazer,
de gloriosa vitória a luzir.
Continua a subir sempre mais,
pela a senda do bem e da glória,
escrevendo com áureos sinais,
frases lindas em nossa história.
Salve, terra de Minas heróica,
de imortal e feliz tradição,
fulgirás na flâmula histórica,
através de um rico brasão.

A autora do hino era sua querida professora, Irmã Cândida ,doce e meiga freirinha,cujos olhos sorriam e lhe iluminavam a fisionomia como se mil estrelas sorrissem.
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E a data da Exposição se aproximava e os preparativos para a festa eram o assunto das meninas...os vestidos para os bailes, os animados passeios que fariam, os namorados, e ela se calava quando este era o assunto... mas uma das amigas,a sua querida Lucina, a quem ela fazia as mais intimas confidências, lhe dizia que não deveria se amofinar por alguém que não a merecia, um amor se esquece com outro e mais todas estas frases feitas que se costuma dizer nestes casos... então ela se convenceu e resolveu que iria a todas as festas. (não pensem que foi fácil, mas ela era teimosa, lembram-se?).

Costureiras, preparem-se, pensou e no dia seguinte já estava na casa de Lacyr, sua amada costureira,a encomendar vestidos para a festa. Ainda não se usava calça jeans, traje mais apropriado para uma Exposição deste teor, as meninas iam de vestidos rodados e sapatinhos de salto, afundavam os delicados calçados no saibro, mas não perdiam a pose... e eram elegantes, magras e lindas.
A entrada da Exposição em uma foto da época,dá para avaliarem como era o local:



E no recinto do evento o que encontravam:
 E no dia da abertura, vamos encontrá-las todas, após a aula,ainda de uniforme, o que era rigorosamente proibido pelas freiras, a passear pelo recinto, percorrendo as baias dos cavalos, admirando as vacas holandesas como se grandes entendidas fossem deste assunto.

E à noite, com seus lindos vestidos, seus batons cor de sangue, suas unhas pintadas de vermelho, o parque de exposição era o palco de seus sonhos... e o sonho comum a todas elas era encontrar um John Wayne ou um Clark Gable, de preferência em um belo cavalo branco...
E foi neste local, em uma noite estrelada que ela conheceu o seu futuro marido... foi uma pirraça, um acinte ao tão esperado dono dos olhos azuis? Foi esta a intenção, mas o namorado (não se "ficava"simplesmente, quando uma menina e um rapaz se encontravam e ele a levava em casa, já era namoro), era tão gentil, tão educado, que ela esqueceu rapidamente o seu "príncipe".
Ele era fazendeiro e pertencia a uma tradicional família da cidade. Usava ternos brancos de linho e sapatos irrepreensivelmente lustrosos. Alto,com um bigode à Clark Gable, tratava-a como uma princesa e referia-se a seus pais como "o senhor seu pai e a senhora sua Mãe", como só se via nos romances de Machado  de Assis. E a menina se encantou pelo rapaz mais velho, que dirigia seu próprio carro e deixou que ele passasse a dirigir o seu destino.
Serão felizes? O tempo o dirá.
Lembrem-se que ela era uma romântica incorrigível, como, aliás, quase todas as meninas de sua geração ...

Esta era a família de sua futura sogra. 

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Eu vou,mas voltarei...
na próxima semana.

8 comentários:

Beatriz Bragança disse...

Querida Leninha
Muito me conta, num belo trecho da sua biografia!
Como se vivia e como se vive! Quanta diferença!Essas vivências, recordadas agora, dão-nos alento para enfrentar estes tempos.
Faço ideia da velocidade a que esse coração batia, quando se dirigia à casa da sua costureira! Que bom é recordar!
Como gostei!
Um beijinho
Beatriz

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de saúde, querida amiga Leninha!
Um amor não se cura com outro...

As freiras tiveram papel preponderante em nossas vidas...

A elegância caracterizava as meninas românticas e o jeans tirou um pouco todo esse jeito de ser feminino...

O coração pulsava a cem por hora...

Fui lendo e saboreando cada emoção sua com prazer.
Muitas me são familiares...
Estou adorando sua fase de adolescência tão intensa.
Tenha dias abençoados e protegidos do mal!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

" R y k @ r d o " disse...

Olá:- As vivências mudam. Tudo muda na vida.
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Saudações amigas

Leninha Brandão disse...

Beatriz muito querida!
Sabe, amiga, chego a sentir,ao escrever, a mesma emoção que me tomava o espírito, naquela época em que se sentia profundamente as emoções e se passava de um sonho à outro com a maior naturalidade...não quer dizer que a nossa menina não tinha sentimentos, ela os tinha sim e muito profundos, porém não gostava de permanecer na tristeza e substituía um sonho por outro para não sofrer muito...ela aprendera , na mais tenra idade, com o sofrimento de ir para longe dos avós, a quem tanto amava, a esconder bem fundo o que sentia. Fugia e se refugiava em novas emoções.
Gosto da leitura que você faz das minhas narrativas, querida!
Obrigada, sempre!

Leninha Brandão disse...

Minha querida Rosélia!
Concordo com você, amiga! As freiras exerciam uma enorme influência sobre nós...seu modo sereno de ser aplacava um pouco aquela turbulência de sentimentos das adolescentes da época...se bem que para algumas nada disto funcionava.
Quanto a um amor fazer esquecer outro, no caso de nossa menina era perfeitamente válido...ainda bem pois demorou muito a acertar com alguém...e, olha que os sentimentos dela eram sempre avassaladores!
Bom saber que se identifica com ela em alguns pontos...
Obrigada pela visita, sempre tão bem vinda!!!

Leninha Brandão disse...

Amigo " R i k @ r d o"
Sim, meu querido, nada é imutável neste mundo...hoje temos a prova irrefutável de tal fato!

Dalva Rodrigues disse...

Leninha, acabei de comentar no blog do amigo Toninho, sobre amores terem grande possibilidades de serem passageiros. Isso a gente só aprende com o tempo, a maturidade, e como isso leva tempo, todos temos nossas sofrências por esses amores decepcionantes, se bem que amor perfeito não existe.
Gosto tanto qdo descreve coisas de Muriaé, meu pai era de uma cidade (Miraí) vizinha, pequena, de vez em qdo ia para lá antes de virem para São Paulo, imagino que era como a cidade grande para ele, então criança.
Adorei os novos rumos!
Abração, querida!

Leninha Brandão disse...

Dalva querida,
Na adolescência todos os nossos sentimentos são repletos de lances românticos e exageradamente intensos. E nossa menina era assim, intensa, plena e todos os amores eram vividos assim, com esta profusão de cores.
Obrigada por suas carinhosas palavras, minha querida amiga!

Minha querida e linda sobrinha Marcela, A vida é uma eterna ciranda a nos conduzir prá lá e pracá... e em uma destas voltas viemos para Tere...

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