SONHOS E ENCANTOS

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quarta-feira, outubro 30, 2019

Memórias de uma Senhorinha


Lá, distante que nem seiNotas musicais de fundo vetor de notas musicais de fundo e mais banco de imagens de 2015 royalty-free

A tarde cai, vem a noite e vamos encontrar a nossa senhorinha, única pessoa acordada na casa e, talvez, em toda a cidade. Sentada em uma romântica poltroninha, tem a cabeça fervilhante de pensamentos...

 Nossa senhorinha devaneia e em seus sonhos imagina uma aldeia que possa servir de abrigo para uma jovem baronesa imersa em seus problemas e disposta a procurar uma nova vida.

 Em um Atlas antigo e surrado encontra um paraíso , ideal e atraente, totalmente diverso da fazenda onde vivia a nossa heroína. O nome "ESTORÃOS", não lhe é muito atraente, porém as fotos mostram uma aldeia bucólica e afastada da civilização.

Estorãos é uma pequena aldeia minhota situada a cerca de seis quilómetros de Ponte de Lima onde corre a ribeira que lhe dá o nome. As águas vindas do alto da serra de Arga serpenteiam no meio de pinheiros, vinhas e campos estrumados criando pequenos lagos e represas onde trutas e lampreias se escondem de turistas e pescadores.

Por Joseolgon - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4197708
A paisagem é magnífica. O recorte azulado e sombrio da serra contrasta com o verde dos campos e as cores outonais das vinhas e searas criando verdadeiros jardins que pedem muitos passeios e descobertas rústicas. De cada lado da ribeira várias casas de granito e outras mais modernas formam uma pequena aldeia ligada por uma velha ponte românica. Do lado direito da ponte, um moinho de pedra com a roda de madeira intacta parece uma sentinela nas águas calmas próprias dos dias em que não chove.

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Foi esta aldeia a escolhida por uma baronesa ávida por um local longínquo que a afastasse da realidade caótica vivenciada por ela neste momento. Era prudente que se afastasse, mas apesar do dito na carta, não cogitava em momento algum, de um rompimento definitivo. Mister se fazia, entretanto , não alimentar ilusões em seu amado. 


Mas voltemos à nossa senhorinha. Sua rotina não podia parar e nem ela entregar-se à  devaneios em todos os seus momentos. Planos de aula a aguardavam, alunos sedentos de histórias, de novas expedições às matas vizinhas...mágicos lápis de cor, fechados em suas caixas, deveriam ser descobertos e utilizados, músicas precisariam ecoar naquela sala, com novos ritmos a serem pesquisados...e a leitura de sons diversos além das vogais cantadas por eles com entusiástico fervor:

Somos cinco amiguinhos 
que se querem muito bem,
cada qual fala sozinho 
não precisa de ninguém

Aa Ee Ii Oo Uu !!!!!!!!

assim como as notas musicais em uma melodia do filme 
"A Noviça Rebelde"Notas musicais de fundo vetor de notas musicais de fundo e mais banco de imagens de 2015 royalty-free

Dó é pena de alguém
Ré é sempre para trás
Mi,pronome que não tem
Fá que falta que me faz
Sol, o nosso astro Rei
Si, de sino e de sinal
e afinal voltei ao Dó
Dó Ré  Mi Fá Sol Lá Si Dó

E os alunos vibravam ao cantar e as outras crianças da escola gostariam de estar naquela " Classe Especial"...

E a cada dia, uma vitória...e a cada vitória a felicidade refletida naqueles olhinhos de crianças ,antes tão discriminadas e que, hoje ,se sentiam valorizadas e queridas.E uma professora radiante de alegria com estas vitórias e estes resultados.

Aceitação e acolhimento são necessidades básicas de todo ser humano...

E agora é hora do descanso de nossa senhorinha...

Eu vou, mas voltarei...aguardem as novas aventuras.



segunda-feira, outubro 21, 2019

Memórias de uma senhorinha

E a nossa senhorinha está de volta..ao pé de seu fogão à lenha,enquanto a água ferve para passar um café, se debruça sobre a primeira carta,percebendo pela caligrafia elegante, embora trêmula, o traço refinado de uma dama antiga(seria a própria baronesa?)
Pára um instante, coloca a água fervente sobre o pó e logo o aroma se espalha pela cozinha, atraindo os amigos que na sala esperavam por este momento.O amigo Beto ( o predileto),se aproxima enquanto os demais aguardam que ele seja servido. Tomam depois assento à mesa e saboreiam o cafezinho. Após conversarem um pouco todos se despedem e vão para as suas casas deixando a nossa amiga à vontade para desvendar o mistério da carta. ............................................
Mãos cuidadosas rompem o lacre já escurecido pelo tempo.Uma pétala de rosa, já sem cor, cai sobre o seu colo...e as primeiras palavras saltam aos seus olhos:


Meu amado,
Quando leres estas linhas já estarei do outro lado do oceano...sinto-me sem forças para lutar contra tudo e contra todos. Meu pai descobriu que nos encontrávamos e não aceitou de forma alguma o nosso amor. Nem mesmo teu nome pode ser pronunciado nesta casa. Uma maldição pesa sobre nós e tenho medo do que possa te acontecer. Não tente me encontrar...é perigoso demais.
Nosso filho nascerá a salvo de meu pai e de seus capangas. Eu o protegerei com minha própria vida, se necessário for.
Tua, sempre tua,
Alice
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Nossa senhorinha termina a leitura e seu pensamento a conduz à casa da baronesa, visualizando uma linda moça, debruçada sobre uma elegante escrivaninha com os longos cabelos espalhados sobre a carta, ponto final de um tresloucado romance que havia tomado conta de seu coração e de sua mente durante o passeio à Corte.Menina provinciana, criada no campo,se deslumbrara com as festas e com a atenção de um garboso tenente da guarda da Imperatriz. Mal sabia que as suas famílias eram inimigas e que os pais se odiavam.Para proteger o amado decidira, após longos dias de incerteza e dúvida,partir para uma aldeia bem distante na terra de seus antepassados, Portugal, onde decerto estaria a salvo. 
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Enquanto a nossa senhorinha viajava no tempo e no espaço, mergulhada em sua fértil imaginação, o dia já se despedia...a última luz se extinguia lentamente e só os lampejos do pôr do sol tremeluziam no fim da rua, avistada por ela de sua janela envidraçada...era a sua hora preferida, a hora do Angelus, os sinos repicavam na Igrejinha e não mais deveria se entregar aos devaneios. 
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E também eu me despeço deixando para outro dia as Memórias de uma Senhorinha.

Leninha Brandão


Minha querida e linda sobrinha Marcela, A vida é uma eterna ciranda a nos conduzir prá lá e pracá... e em uma destas voltas viemos para Tere...

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