SONHOS E ENCANTOS

SONHOS E ENCANTOS

quarta-feira, novembro 22, 2017

  
  
As palavras do poeta martelavam em sua cabeça... sabia do cair e do levantar também... tantas vezes experimentara o caminho resvaloso e não ficara inquieta nem triste por estas armadilhas da vida. Aprendeu a ficar de cabeça erguida e sempre alegre caminhava por seus caminhos. Algumas rosas colhidas,  alguns espinhos nada agradáveis, porém no peito uma confiança imensa no futuro e na Providência divina.
Enquanto fazia a lista dos materiais necessários à sua turminha pensava que valia a pena confiar e crer... as rosas estavam aí.
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Mãos à obra, portanto,  que o Tempo assim  exige. Não vou me deter nas compras,  nos detalhes burocráticos para finalizar o processo, nem nas andanças em busca de um preço mais justo. A viagem não se resume ao chão que descalços pisamos e sentimos... ela está contida nos sentimentos que devagarinho vão nos povoando e no brilho que invade a nossa alma e transborda pelos nossos olhos.

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E eis que, como em um passe de mágica,  a sala ficou pronta!  Rufemos os tambores para receber os principais protagonistas desta história!  Que  chegaram,  tímidos e envergonhados,  àquela que seria a sala dos sonhos de qualquer criança e que,  eles, sempre tão menosprezados por todos, haviam conquistado graças àquele moço gentil e atencioso que viera de longe... trazido por um anjo talvez ...
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Bolas coloridas que enfeitavam a entrada e uma farta mesa de café da manhã os receberam. O som da alegria vinha na voz das crianças da Turma do Balão Mágico... com o disco rodando na eletrolinha,   os enfeites na parede,  as mesinhas dispostas em círculo e o belo armário repleto de cores, o encantamento era total... lápis,  cadernos, livros de histórias e, sobre cada mesinha, uma bandeja com as delícias especialmente feitas para eles.
Haviam ensaiado um jogral para homenagear o agora amigo Neil.
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Devo, porém, fazer um parêntesis para contar-lhes sobre a véspera da festa. Munida de sabonete, shampoo, pente e toalhas, nossa amiguinha fez a toalete de cada um (alguns nem sequer penteavam os cabelos antes de vir à escola). Eram treze alunos e ela se dedicou a cada um.
 Imaginem a ansiedade que invadia aquelas cabecinhas ao se prepararem... uma das meninas, a Janete,  não tinha mesmo tempo de se arrumar. Cuidava de três irmãozinhos menores desde que havia perdido a mãe. O pai trabalhava muito e a encarregara do trabalho materno... doze anos e o olhar perdido e triste de uma pessoa mais velha. Quando a nossa senhorinha começou a lavar-lhe os cabelos, antes embaraçados e desbotados,  começou a surgir uma linda cabeleira loura a emoldurar um rostinho de porcelana. Os olhinhos azuis criaram um novo brilho e um sorriso enfeitou aquele rostinho antes tão tristonho. A blusinha nova, uma sainha, sandálias nos pés limpinhos e, para arrematar, um laço de fita da cor dos seus olhos. Foi uma nova menina que ela levou para a sala... as crianças a olhavam sem acreditar... de repente,  um dos meninos falou, interrompendo o silêncio :
"Gente,  a Janete é BONITA! "

A emoção foi muito grande e nossa senhorinha teve que disfarçar a lagrimazinha que teimava em querer cair.
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Voltemos à festa, antes que a emoção se repita...
O jogral foi um sucesso!  Os meninos, entusiasmados,  felizes com os aplausos. E uma homenagem tocante ao amigo Neil ,  encerrou a festa.
Ele se foi, voltou para a Austrália, porém mora até hoje em meu coração e no de cada uma daquelas crianças.
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E assim vamos encerrando por hoje. Mas eu voltarei, meus amigos. Com certeza!

Leninha Brandão



quarta-feira, novembro 08, 2017

Memórias de uma senhorinha
Voltando para casa



Enquanto o carro percorria a estrada, pneus rolando no saibro com o barulho característico, os pensamentos de nossa senhorinha ainda estavam estacionados naquela casa e nas impressões que a mesma lhe causara.
 E se perguntava, enquanto a mão alisava a caixa já deteriorada pela ação do 
tempo ( é lógico que a nossa curiosa senhorinha a havia trazido) , quais os segredos se esconderiam naquelas fotos e naquelas cartas.E sua fértil imaginação já passeava por outra era, outros sonhos e novas aventuras.


Porém a vida real a solicitava e vamos deixar que ela aterrisse na sua ,enquanto o carro estaciona na garagem e começam a retirar a bagagem do mesmo.Da garagem se entrava diretamente na casa e os amigos pediam que fizesse um café...era a realidade a chamar por ela da maneira mais prosaica possível. Os sonhos ficarão para outro dia...o domingo terminara e outra semana começaria, com suas alegrias, sobressaltos e correria.
A escola trouxera para ela uma riqueza imensa...alunos que a faziam pesquisar sobre novos assuntos e um novo sonho: voltar a estudar para prestar vestibular e realizar um antigo desejo, o de cursar a faculdade de Pedagogia. Muitos anos a separavam de seu Curso Normal e deveria se esforçar muito para conseguir o objetivo.Ademais , a faculdade era na vizinha cidade de Barbacena...próxima , porém , de difícil acesso já que ainda era uma estrada de "chão" que fazia a ligação entre as duas cidades. Quando chovia a dificuldade aumentava e muitas vezes ficavam "ilhados", sem a menor chance de locomoção.
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Em uma outra ocasião, nossa senhorinha retomará a narrativa e investigará o conteúdo da misteriosa caixa.Por enquanto o dever a chama e ela não costuma se furtar a ele. Ama as histórias antigas,perde-se nas transparências dos tules e das organzas e tenta adivinhar o que as cortinas esvoaçantes ocultam...em uma tarde de devaneios voltará à caixa e seu conteúdo.

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E a segunda feira chegou e ,com ela, a rotina de estudos e planos de aula, as tardes com os amigos que passavam para um dedo de prosa e acabavam servindo de cobaias para os seus mirabolantes planos de aula. Suas aulas eram como um programa de TV infantil, sempre trazendo novidades. A falta de material era compensada pela criatividade e pelo aproveitamento de materiais que sobravam e seriam jogados ao lixo...caixas de papelão, garrafas pet, embalagens de ovos e tantos outros que aparecessem.


Mas um fato novo aconteceu e veio transformar tudo isto.A irmã e o cunhado vieram visitá-la trazendo com eles um aluno a quem o cunhado dava aulas de Português. Era australiano e era  cônsul no Consulado em Brasília...muito atento aos problemas brasileiros, principalmente os educacionais, manifestou o desejo de conhecer a escola e os seus alunos.Ficou chocado com o que viu...alunos em sua maioria calçados com velhas sandálias de borracha, roupinhas limpas porém muito surradas, sem uniforme e sem identidade. Eram crianças desprovidas de alegria e somente quando a nossa senhorinha os conduzia através do mundo da fantasia deixavam entrever um sorriso...

O amigo ( Neil era o seu nome),após a visita à escola, manifestou o desejo de ajudar já que seu consulado dispunha de uma verba exatamente para este fim. Pediu à nossa senhorinha que providenciasse uma lista completa de todo o material necessário para as suas aulas e também material de higiene para as crianças, uma eletrolinha e discos (LPs) para o ensino de ritmos (muito necessário para alunos especiais), um armário de aço para organizar o material e sapatos e uniformes para todos. Uma fada madrinha não teria feito melhor...



Nossa amiguinha não cabia em si de contentamento quando foi informar à sua querida Diretora o sopro divino que havia se manifestado em forma de um australiano brincalhão e gentil ...um anjo de bondade e generosidade.
Não devo me alongar mais. Vamos deixar a nossa senhorinha imaginando e dando rédeas à imaginação.

Eu voltarei...aguardem!!!



Leninha Brandão















quinta-feira, novembro 02, 2017

Memórias de uma senhorinha


A casa da Baronesa e seus mistérios

Enquanto os amigos preparavam o derradeiro lanche antes de partirem, nossa senhorinha se encostou à balaustrada da antiga sacada e, romântica que era, fechou os olhos e se pôs a imaginar... em seus pensamentos vislumbrava a casa imaculadamente branca, com janelas azuis e muitas flores. Trepadeiras cingiam o portão de grades finamente trabalhadas... bouganvilles,  madressilvas e rosas destacavam-se, misturando os aromas e colorindo as paredes brancas. Nos beirais 
rendados, colibris,  pintassilgos e rouxinóis soltavam os seus doces trinados, enquanto celeremente, preparavam os ninhos que receberiam os primeiros filhotes. Uma escada de degraus de mármore esverdeado recebia e acolhia os visitantes... uma bela porta trabalhada se abria para uma saleta encantadora onde se destacava um belo lustre de cristal. Cortinas de organza asseguravam  o aconchego e uma bruxuleante luz reberverava sobre os copos coloridos pousados, elegantemente,  sobre uma mesinha de mogno.
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Havia observado na chegada, uma caixa de latão que a ação do tempo não destruíra...voltou então à realidade e se pôs a procurar a tal caixa. Não precisou procurar muito...em um dos cômodos a encontrou e , disposta a satisfazer a sua já conhecida curiosidade, tirou da  bolsa um chaveiro em formato de abridor,companheiro fiel dos seus passeios.Munida desta ferramenta forçou um pouco a velha tampa da caixa e com facilidade conseguiu abri-la.Fotos e cartas a surpreenderam e, entre elas, a de uma jovem senhora de cabelos negros, caprichosamente trançados e presos com um belo laço de fita, lembrando-lhe a sua tia tão querida e saudosa.E, para seu total espanto, a foto fora tirada ao lado da mesinha de mogno onde,
surpreendentemente,sobre uma bandeja espelhada
se alinhavam os copos coloridos que imaginara.
Sonho? Ilusão? Jamais saberia a resposta...

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" O que os objetos são, em si mesmos,fora da maneira como nossa sensibilidade os recebe,permanece totalmente desconhecido para nós. Não conhecemos coisa alguma a não ser o nosso modo de perceber tais objetos- um modo que nos é peculiar- não necessariamente compartilhado por todos os seres..."
 Kant
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Saiu de suas elucubrações e voltou à realidade, com as vozes dos amigos a chamá-la.Com ela seguiriam as lembranças daquele dia tão especial e, a diáfana cortina que separa a ilusão da realidade, continuaria em seus pensamentos.


Leninha Brandão



Amigos queridos,eu vou, mas voltarei...aguardem!!!






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Minha querida e linda sobrinha Marcela, A vida é uma eterna ciranda a nos conduzir prá lá e pracá... e em uma destas voltas viemos para Tere...

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