SONHOS E ENCANTOS

SONHOS E ENCANTOS

sábado, junho 27, 2020


Memórias de uma senhorinha / DESPEDIDAS










E mais uma despedida se anuncia na vida de nossa  senhorinha... outra plataforma,outra estação... mais uma tristeza para o seu coração, fragilizado por seu estado e já desacostumado da palavra adeus.
Seu pai foi transferido para o Rio de Janeiro, sonho antigo e acalentado por sua mãe, mas neste sonho ela não figurava, teria que ficar em sua casa, com o marido, o filho e já preparando o novo enxovalzinho do bebê que estava para nascer...
Como descrever o seu estado de espírito, ao receber a notícia?Decepção, angústia, frustração, desilusão e , ao mesmo tempo a alegria por saber que os pais estariam realizando um sonho... sentimentos contraditórios a invadiam e não sabia se deveria rir ou chorar... a criança, que habitava o seu interior, chorava, mas a senhorinha, adulta e compenetrada, demonstrava uma esfuziante alegria e planejava, com eles, os detalhes da mudança.
Coração partido não aparece, não sangra, nem se manifesta... e o dela estava partido em mil pedaços, não haveria cola capaz de emendá-lo... só mesmo o tempo poderia amenizar aquela dor.

Não mais a Rua São Pedro, não mais as brincadeiras com o pai, não mais seu quarto hippie com seus "livros, seus discos e nada mais."

O acender das luzes da realidade lhe fora duro, o sonhar era proibido, o "laissez faire,laissez passer, le monde va de lui même"(dito preferido de seu pai),também.Por entre os cílios guardava segredos e estendia nas janelas rendadas da alma as ilusões infantis.

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E o tempo, implacável senhor, seguiu a sua trajetória e ela "com seu vestido cada dia mais curto", viu chegar o dia da partida de sua família... se sentia órfã, ao lhes dar o adeus sofrido e machucado, mas segurou a dor dentro do peito e os viu partir, abraçada ao filho, naquela noite fria e triste... o trem apitou e selou a sua sentença.

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Nova vida e novo contexto ... afinal, um filho é uma planta, há que se esperar brotar...
No outro parto, ela, que havia sofrido as dores com total despreparo e imenso desatino , havia prometido a si mesma que, de outra feita, não sentiria nenhuma dor. Na revista Cláudia, havia lido sobre um miraculoso método de parto sem dor e, desde então, só pensava em encontrar o livro que abriria para ela as portas deste método. Pediu ao cunhado, que morava no Rio e estudava Direito, que , em suas incursões por livrarias, procurasse o milagroso livro. Para sua grande alegria, ele o encontrou e trouxe para ela...foi uma alegria enorme! O livro se chamava " Parto sem Dor"e seu autor , o Dr.Pierre Velay, afirmava, com todas as letras, que era possível se abolir totalmente a dor do parto, praticando os exercícios que ele, passo a passo, ensinava.
Fazia daquela prática a sua religião, a sua esperança, a sua tábua de salvação...sua carência, sua saudade, sua infinita tristeza, se transformavam em energia canalizada para um só objetivo: ter o seu filho sem sentir dor. Todos que a viam tão centrada nesta prática de relaxamento, controle da respiração, caminhadas e vários exercícios, achavam que era uma infantilidade, um sonho impossível... 
Seu médico ainda era o querido Dr Evaristo, com sua cabeleira branca e sua fisionomia paternal... a enfermeira era a mesma do primeiro filho e riam, ambos, daquela sua obstinação em fazer aquelas paradas para a respiração, não acreditavam nem um pouco naquele método. Mas tudo correu bem e nossa amiguinha não sentiu mesmo a menor dor... seu filho nasceu e ela o recebeu com um sorriso nos lábios. Seu nome, Carlos Augusto e era um bebê forte e grande, calmo e tranquilo, nascido de um parto sem dor.

Os pais chegaram para conhecer o neto e se maravilharam ao ver como a sua menina estava bem disposta, alegre e sorridente. 


Eu estou indo, mas voltarei na próxima semana...aguardem.

segunda-feira, junho 22, 2020

Memórias de uma senhorinha/ O primeiro filho









"Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar.” Dalai Lama

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“Bendito aquele que consegue dar aos seus filhos asas e raízes”, diz um provérbio.

Precisamos das raízes: existe um lugar no mundo onde nascemos, aprendemos uma língua, descobrimos como nossos antepassados superavam seus problemas. Em um dado momento, passamos a ser responsáveis por este lugar.

Precisamos das asas. Elas nos mostram os horizontes sem fim da imaginação, nos levam até nossos sonhos, nos conduzem a lugares distantes.São as asas que nos permitem conhecer as raízes de nossos semelhantes, e aprender com eles.
Bendito quem tem asas e raízes; e pobre de quem tem apenas um dos dois.
Paulo Coelho




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E nossa senhorinha, apesar da pouca idade, já professava esta teoria e cuidava do filho com o objetivo de fazer dele um cidadão do mundo, com raízes em seu rincão natal e asas para alcançar amplos e distantes horizontes.

Tornou-se criança novamente e com ele brincava e subia os pastos, cantando alegremente, deitava-se com ele e mostrava-lhe as estrelas, contava-lhe histórias e falava-lhe do mundo, dos sonhos e dos seus mais profundos desejos em relação a ele e ao seu futuro...era uma criança dócil e meiga,carinhosa e bem humorada.Sua risada enchia a casa de alegria ... amava os animais e todos os colonos o estimavam e com ele brincavam.
 Aos domingos viajavam para Muriaé e os avós se encantavam com a criança dócil e alegre.A tia o mimava e o carregava para todos os lugares onde ia.A bisa contava-lhe as mesmas histórias que alegraram a infância de nossa senhorinha, sendo que, a que ele mais gostava era a de Pedro Malasartes.E se divertia com as estrepulias do herói sem caráter, tendo a avó que esclarecer o lado errado do espertalhão.



E é lógico que os houve, mas nada que fosse tão insuportável, tão difícil para uma pessoa como a nossa senhorinha, tão cheia de vida e na flor da idade.Algumas vezes ela passou por "perrengues",como se dizia por lá, como quando ele teve a primeira infecção de garganta e muita febre.Uma convulsão quase a tirou do eixo,mas possuía um livro mágico...o livro do Dr Rinaldo Delamare,  "Meu Bebê" era a sua Bíblia...nele aprendeu a mergulhar a criança em uma água gelada,tão logo a febre começasse a subir e assim ela fazia.Vinha-lhe sempre à mente a imagem da mãe e da avó, quando a irmã teve a primeira convulsão... foram as duas para a varanda, com a criança nos braços, chorando desesperadas...ela sabia que não era grave e que não deveria se desesperar. Sempre soube conservar a calma e o sangue frio em todas as circunstâncias, afinal morava longe de qualquer recurso médico e tinha que aprender a tudo solucionar.
 A experiência adquirida com o irmão que ajudou a criar, também foi um fator importante para este amadurecimento.
Não sabia cozinhar, mas aprendeu com o mesmo livro e fazia as sopinhas e, mais tarde as comidinhas sólidas de acordo com cada fase da vida do filho.
Para não ficar parecendo que tudo foram flores, devo contar um episódio ocorrido na primeira viagem que fizeram com os sogros para São Lourenço.
O sogro tinha um carro Chevrolet,novo e bem equipado,sem defeitos e com ele faziam viagens longas, nunca tendo acontecido nenhum percalço.O motorista,experiente e capaz, o conduzia com segurança e profissionalismo.Mas, há sempre um mas, nas melhores histórias, principalmente nas que abordam a vida real...mas, naquele dia o carro parou no meio de uma estrada deserta e se recusou a continuar a viagem...nada o fazia pegar, faltava água no radiador e não havia nada nem ninguém nas proximidades.
O problema maior era que nossa senhorinha não tinha prática de viajar com crianças e não havia trazido água para o pequeno Toninho, que por sua vez, chorava desesperadamente, melhor dizendo, BERRAVA, e nada se podia fazer...nossa amiguinha o colocava no peito(o leite materno supre a necessidade de água), mas nada o fazia parar de chorar.A sogra e o sogro a recriminavam e ela, mais que todos se culpava, por não ter se lembrado da mamadeira com água.Quando, enfim, chegaram a São Lourenço, estavam todo estressados e cansados, mas enfim o bebê conseguiu beber a água de que tanto necessitava. 
Foi um maravilhoso passeio e nele ela descobriu que estava grávida...o segundo filho estava à caminho.Uma felicidade para todos,uma benção para a família.
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Amigos queridos,não consegui postar as fotos prometidas...o formato não foi reconhecido...

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Eu vou, mas voltarei na próxima semana. Bjssssssssssssss

 

sábado, junho 20, 2020

Memórias de uma senhorinha








 
Roda mundo,roda gigante 
Roda moinho,roda pião
O tempo rodou num instante
                             Nas voltas do meu coração

E o tempo, este senhor de nossas vidas, rodou de repente, como na música do Chico Buarque...

E vamos encontrar nossa senhorinha a preparar as malas com o enxovalzinho e o coração acelerado pela emoção na expectativa de sua estréia em um papel por ela ensaiado durante anos e sonhado em seus mínimos detalhes: a maternidade e com ela as perspectivas de alegrias infinitas.
Eis que chega o grande dia...  pela manhã sente uma ligeira cólica, que vai aumentando num crescendo exagerado, até que diminuem os espaços entre uma e outra e ela, que não previa uma dor tão forte (era medrosa e seu limiar para a dor sempre fora mínimo), se viu a gritar como uma criança, não se importando com as recomendações do pai e da mãe que lhe pediam calma.


Foi, aos gritos, para o hospital e lá, depois de um tempo que para ela se afigurou como uma eternidade, seu querido médico de cabelos cor de neve a enviou para a sala de parto, onde a amada enfermeira, sua vizinha e conhecida desde a infância, Dna Eva, a preparou para o parto... experiente parteira, a acalmou e com seu carinho a conduziu e orientou. E, enfim se ouviu o choro do bebê tão esperado... e com este choro, a alegria em seu coração e nos de seus pais, irmãos e de sua avó Quitita, bisavó miudinha e esperta de seu primeiro bisneto. Durante uma semana, o resguardo no hospital e depois a volta para casa, onde todos aguardavam ansiosos a sua chegada.

Já em casa, uma nova rotina em sua vida... de três em três horas amamentar, trocar fraldas, fazer dormir o bebezinho que ouvia as músicas que ela cantava como se entendesse e se cuidar para que o leite "ficasse forte"...alimentação de parturiente naquela época era reforçada... canjas de galinha (que alguns chamavam "sopa de mulher parida"), cerveja preta (que ela adorava), canjica de milho branco e muito, muito leite, muito queijo e bastante repouso. Era um verdadeiro regime para engorda, mas nossa senhorinha continuava magrinha, para desespero das duas (mãe e avó), que a queriam gorda e "forte".

Receita da Sopa de Mulher Parida

 

Sopa de Mulher Parida

Uma galinha bem gorda
300g de farinha de milho
salsa e cebolinha


Como fazer a sopa
Cortar a galinha em pedaços e cozinhá-la (hoje pode ser na panela de pressão), com todos os temperos, menos a salsa e a cebolinha. Após o cozimento, colocar os pedaços em uma tigela. Manter o caldo em fogo baixo e acrescentar a farinha de milho, mexendo sempre para não empelotar. Quando ferver, despejar o caldo sobre a galinha e jogar por cima a salsa e a cebolinha. Servir com arroz.

A avó preparava a sopa e cuidava das fraldinhas... tinham que ser lavadas e fervidas. A mãe se ocupava do quarto e de vigiá-la para que nada fizesse... o resguardo era algo muito sério, não podia ser "quebrado". A sogra vinha todos os dias dar o banho e curar o umbigo e era todo um cerimonial. Retirar e colocar o cinteiro bem firme, o pobre "nenem" parecia engessado, depois a fralda e o cueiro, também apertado, um horror!
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Durante muitos anos, se usou o cueiro em bebês. Em uma determinada época ele foi renegado e preconizou-se o hábito de deixar as crianças livres e soltas. Hoje, procurando  fotos de cueiros(antigas), deparo com uma moderna pesquisa sobre as vantagens do mesmo.

Segundo pesquisadores holandeses o uso do cueiro torna os bebês mais calmos, até a oitava semana de vida, pois eles se sentem mais protegidos quando bem enroladinhos em um pano. Foi a vitória das avós que protestaram quando o mesmo foi banido. Segundo os mesmos cientistas os cueiros são imprescindíveis para prematuros e crianças abaixo do peso, que são mais agitadas que as outras.

Um bebê de hoje devidamente enrolado.


Mas houve um terceiro grupo: os que introduziram a mesma rotina calma do segundo grupo e acrescentaram o hábito de embrulhar os bebês em cueiro antes de colocá-los no berço. Esses tiveram uma redução significativa nas horas diárias de choro.


O primeiro filho, por tradição da época, da família e dos costumes mineiros, recebeu o nome do pai, Antônio Lucas e foi logo chamado de Toninho. Era uma criança calma, que  dormia tranquila durante quase toda a noite. Muito lindo, logo se tornou o xodó da família materna e da paterna também, por seu gênio calmo e bem humorado. E a tia era sua maior fã, cuidava dele com carinho e desvelo... o que lhe valeu o convite para ser sua madrinha.

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Na próxima postagem,colocarei as fotos do bebê.Aguardem.


Até a próxima semana,meus queridos.

                                Bjssssssssssssss,
                                                           

Minha querida e linda sobrinha Marcela, A vida é uma eterna ciranda a nos conduzir prá lá e pracá... e em uma destas voltas viemos para Tere...

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