SONHOS E ENCANTOS

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segunda-feira, junho 01, 2020

MIRADOURO

MEMÓRIAS DE UMA SENHORINHA



Uma cidade rodeada de montanhas,com bucólicas estradinhas de chão a nos remeter para outros tempos,outros dias...

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E eram outros os tempos nos quais a nossa senhorinha se iniciava na vida campestre.

Todas as manhãs a visita ao curral para ver a ordenha e beber o leite fresquinho... mais tarde ir até a casa dos colonos, de camionete com o sogro e o marido, em busca do produto da colheita: milho, feijão ou café. E almoçavam lá mesmo, aquela comidinha gostosa, feita no fogão à lenha e era um desfilar de iguarias às quais ela não estava habituada, mas que passou a apreciar: canjiquinha com costelinha de porco, frissura de porco com angu(o angu era completamente diferente daquele ao qual  estava acostumada, era feito com fubá moído lá mesmo, em moinho de pedra (e o sabor era muito melhor) cabrito ensopado, ora pro nobis, frango ao molho pardo e tantas outras comidinhas tipicamente da roça. Até o arroz era diferente,socado no pilão e com um sabor e uma cor totalmente diferentes.
E as sobremesas... um capítulo à parte, doce de mamão verdinho, doce de laranja, de abóbora com coco, de figo e arroz doce... ficavam em latas de óleo enormes, com tampa de madeira .Uma orgia gastronômica! 

E as pessoas, tão cordiais, tão hospitaleiras, com uma meiguice, uma ternura, um querer bem espontâneo e simples, um se entregar à amizade com singeleza e graça, que a comoviam e mexiam com suas emoções.

E na volta para casa, a amizade da sogra e do sogro que  tratavam como se filha deles fosse, aquela menina de sentimentos transparentes e alegria contagiante.
O sogro e a sogra


E a sisudez de ambos se derretia diante daquele sorriso que habitava aquele rosto permanentemente. E ela gostava deles, retribuía aquele afeto com toda a ternura de um coração ainda de criança. Seus repentes divertiam os dois... sua paixão pela música que a fazia andar de baixo para cima com uma eletrolinha à pilha que era o seu xodó, ouvindo suas trilhas sonoras de filmes, sua mania de subir os pastos cantando, suas caminhadas pelas "românticas"estradinhas, o seu modo de tratar os colonos e as empregadas da casa. Neste ponto a sogra não concordava muito, a intimidade com a cozinheira que a chamava pelo nome, com a simplicidade e ingenuidade próprias das pessoas simples a incomodava e ela ensinava que não poderia haver esta liberdade, teriam que chamá-la por Dona Leninha.
Outro ponto com o qual não concordava era que ajudasse na arrumação da casa, no colocar a mesa e, principalmente em encerar a sala de estar e o quarto. Era por ela considerado algo inaceitável, uma dona de casa conversar com os empregados... isto era norma da época e das famílias dos coronéis.Conversar, somente sobre trabalho.
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Os sogros passeavam muito, gostavam de ir à Araxá e na casa havia várias fotos destas viagens. Uma delas mostrava a cunhada, o sogro, a sogra e o filho,seu futuro marido, antes do casamento.

Em outra, o cunhado,o sogro e o marido todos muito sérios e
compenetrados...
E no meio desta seriedade toda, a alegria de uma pessoa jovem de idade e de espírito, foi como uma chuva de verão, um sol de primavera, a iluminar aqueles semblantes e aquelas almas.O sogro era um homem bom, trazia no coração uma luz e na mente uma lembrança de uma história familiar bonita, que ele gostava de relembrar. E tinham longas conversas sobre a sua infância em uma fazenda perto de Viçosa, os seus estudos no Colégio Andrés, onde uma educação primorosa o preparou para a vida, enquanto que a perda do pai, ainda jovem o fortaleceu e deu ânimo para educar as irmãs em um Colégio de freiras em Ponte Nova. E nossa amiguinha se deliciava com estas confidências que aquele homem, em menino transformado, lhe fazia na varanda da casa, enquanto a lua lhes fazia companhia.Conheceu a esposa em uma das suas viagens com os seus tropeiros pelas bandas de Muriaé. E dela se apaixonou, e com seu cavalo passava defronte à sua casa, cumprimentando-a com um elegante gesto de chapéu, todos os dias.Um dia pediu para entrar e a família o recebeu com um certo desagrado... eram todos advogados e um fazendeiro não estava em seus planos para a primogênita. O pai da sua amada era um famoso tabelião e não se entusiasmou com o futuro genro, mas a filha já estava apaixonada e nada pode fazer... aceitou o pedido de casamento e, em alguns meses,ela preparou o enxoval.O casamento foi um acontecimento memorável, com a noiva em uma carruagem enfeitada por rosas seguindo , de sua casa ,por baixo de arcos de flores do campo, até a entrada da Igreja.  Vou deixá-los, a imaginar um belo cortejo,

com damas e pajens e toda a pompa e circunstância... voltarei na próxima semana,se Deus quiser.

7 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de paz, querida amiga Leninha!
Nem sei por onde começo com tanta formosura que li aqui.
Tudo descrito tão pormenorizadamente, com tanta beleza nos detalhes...
Ter os mais velhos a favor do casal iniciante é uma beleza.
Aparentemente, o casal era bem feliz.
Trabalhavam juntos e tinham por cenário uma vida que valia a pena!
Vou aguardar mais, com carinho.
Tenha dias de junho abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

" R y k @ r d o " disse...

Recordações quem as não tem. E quem não gosta de um bonito conto de amor?
.
Um dia feliz

chica disse...

Adorei te ler,Leninha e que coisa linda lembrar tudo isso: a fumaça saindo do fogão à lenha, os latões de doces...Hmmm;;; Adorei mais esse capítulo e esperamos a próxima semana! bjs, chica

Dalva Rodrigues disse...

Conhecer a história das pessoas é tão importante para não só nossas impressões, mas para convivência. Hoje em dia conhecemos as pessoas pela internet, que tem seus prós e contras.
Que romântico foi o casamento deles e ainda bem que foi por amor.
Que delícia viver tudo isso que viveu neste novo aprendizado nas relações com as pessoas/trabalhadores.
E o que dizer dessas delícas culinárias, a cozinha mineira tradicional é a melhor!!
Abraço, Leninha, adorei a leitura e fotos!

Jô Turquezza disse...

Gosto demais de tudo que você escreve, minha linda.
Viajo pelos lugares e casas, me delicio com os quitutes ...
Ô vida gostosa de viver.
Esperando os próximos capítulos.
blogjoturquezzamundial
Beijos.

manuela barroso disse...

Já viste esta história lida num país de fim de mundo ?
Não a compreenderiam por ser incompatível com a forma de pensar da sociedade atual , sociedade esta que a comentaria a seu bel prazer mas que no seu subconsciente gostariam de ser um dos personagens .
Isto minha querida Leninha, para te dizer que só o amor pode fazer maravilhas . O teu poder de aceitação e alegria são o motor da tua vida . Nasceste para fazer florir a árvore da tua vida . E segues fazendo as vontades a família que adoptaste e seres ao mesmo respeitada pelo que és .
Nota- se a bonomia do teu sogro e a beleza da tua sogra escondidos no véu do respeito mas também , distância .
O melhor mesmo era essa viagem pela fazenda e essas iguarias que delíciavam !
Lendo-te me lembro de como os tempos mudam, pois revejo em muitas coisas a casa dos meus pais .
Como dizes , vou e volto para nova viagem e para me deliciar com as notícias que são sempre novas
Um grande beijinho minha doce Leninha🌷🌹

Leninha Brandão disse...

Realmente, minha querida Manu, é uma história quase inverossímil nos tempos de hoje...o sentimento, a sensibilidade , infelizmente, são raridades e foram substituídos pelo consumismo, pelo apego às coisas materiais, os fins justificando os meios...
E tens toda a razão, minha querida, era delicioso ir até a casa dos colonos, sob todos os pontos de vista. A simplicidade encantava a nossa menina e as panelinhas brilhando nas prateleiras também.
As cortinas e colchas eram de chitão mas para ela não havia decoração mais linda. Organzas, rendas e voais tinham os seus lugares porém alí, naquelas bucólicas casinhas, o brilho era outro... 🔥 aceso na cozinha, 🌹 nos jardins e corações 🌹💖🌼😍.
E a ternura com que a recebiam era um presente que a vida lhe proporcionava. Voltava para a casa da fazenda com uma alegria que a fazia sonhar...e se via criando os filhos neste ambiente de inocência e genuíno sentimento.
Gostei da leitura que fizeste do sogro e da sogra...assimilaste perfeitamente o tipo de personalidade dos dois.
E vamos aguardar os acontecimentos, minha doce amiga. Na próxima semana mais aventuras da menina transformada em Senhorinha.
Um beijo carinhoso!

Minha querida e linda sobrinha Marcela, A vida é uma eterna ciranda a nos conduzir prá lá e pracá... e em uma destas voltas viemos para Tere...

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