RETOMANDO AS MEMÓRIAS DE CRIANÇA
(Devo me desculpar por este retorno, pois uma parte importante desta história ficou perdida e hoje a encontrei)
Construído em 1886, o ramal de Muriaé pertencia à antiga Estrada de Ferro Leopoldina. Ligava Muriaé a Patrocínio do Muriaé, passando por Ivaí. Em Patrocínio, fazia-se a junção com a linha principal, onde passageiros e cargas seguiam para a cidade do Rio de Janeiro. Trouxe para a cidade grande progresso. Em 1898, a companhia foi incorporada por ingleses e passou a se chamar “The Leopoldina Railway Company”. Em meados do século XX, com a chegada das rodovias, tornou-se deficitária e foi desativada.
E foi nesta estação que desembarcou a nossa menina,agora de longas tranças e sorriso nos lábios,imaginando as aventuras que a aguardavam nesta nova e bela cidade.Foram morar em um hotel,enquanto procuravam uma casa de acordo com as especificações e preferências da mãe:perto do centro,de uma igreja e de uma escola.Estas preferências diminuíam as chances de se mudarem em um tempo curto e traziam alegria à nossa menina,que adorava o ambiente do hotel,com pessoas indo e vindo de toda parte do país...era curiosa e estava sempre conversando com todos,querendo saber dos hábitos e costumes de cada região.
Fez amizade com os netos da dona do hotel e se encantava com a vida deles,com chance de conhecer tantas pessoas,de viajar por estas vidas tão ricas...e eles riam e achavam que ela era uma menina diferente,com pensamentos estranhos.
No blog de Zulnara Pires,que conheci na infância,encontrei este importante acervo ,que veio enriquecer minha narrativa:"...Sendo uma verdade que "o tempo não traz de volta o que o tempo leva", por vezes é bom renovar o passado. Percorrer locais em que habitamos e que a hora tardia esvaziou da gente e dos sons que o habitam. Entrar neles lentamente, quase em reverência. Pisar o chão devagarinho, para não acordar o presente. Sorrir ao vazio em conforto melancólico. E apesar de tudo o que o tempo ali mudou, saber ainda refazer cada passo, reconhecer a pedra torta, a árvore que falta, saber ainda das alegrias, do lugar, dos medos, escutar as gargalhadas, os passos, o roçar das malas e dos casacos como se naquele momento conosco se cruzassem invisíveis observadores. Buscamos nesta viagem temporal não os lugares, mas a nós mesmos. Revisitamos quem fomos, relembramos um certo tipo de inocência, de otimismo e de limpidez no olhar e, no final sorrimos a quem fomos com a melancolia, a maturidade e a sabedoria do presente...” Ate outro dia...retornarei,podem estar certos... E antes que a melancolia me domine,pisarei o chão devagarinho e me recolherei deixando para você,meu amigo leitor, a limpidez do olhar e a inocência da criança que ,dentro de mim,ainda habitam.
6 comentários:
Mexer com o passado pode trazer melancolia, mas faz bem e tu traz aqui lindas lembranças dele! bjs, chica
Realmente, minha querida amiga Chica, faz um bem enorme reviver o passado e sentir quase que fisicamente as emoções adormecidas. Obrigada por suas palavras e por seu carinho sempre presente. Um beijo carinhoso pra você!
Que lindo tudo isso que escreveu, Leninha...
"Pisar o chão devagarinho,para não acordar o presente..."
Viajei nestes trechos, amiga Leninha, a família de meu pai era de Minas, meu pai nasceu em Miraí, ele sempre falava de Muriaé que era uma cidade maior, do trem...
Abração, adorei reler com a atualização!
Dalva querida,
É sempre com muita alegria que leio as suas palavras tão carinhosas de incentivo.
Não sei se mereço, porém é com gratidão que as recebo.
Obrigada, obrigada sempre!!!!! Um beijo carinhoso!
Pois, minha doce Leninha se ão tivesses terminado como terminaste, não te julgaria a mesma menina que existe sempre em ti.
Claro que eu ainda recordo os sinos da minha aldeia.
Claro que a nostalgia bate forte e fundo cá dentro. Mas como diz o texto do blog de Zulnara, essas viagens, esse pisar devagarinho o chão que antes nos viu tantos sorrisos, essa amálgama de sentires, longe de ser tristeza é um recordar bom que nos acalma da viagem que o cérebro fez nesse percurso de vida.
Agora sei porque continuas sempre menina: sabes transmitir ao teu Eu, não as mágoas,não o vazio que as vezes nos visita, mas a tua alegria no vestido que escolhes para vestir cada dia!
Tu és uma sonhadora ou uma alma que gosta de voar?
Para onde quer que vás, encontras sempre algo que te eleva, algo que te faz vibrar. Quem não gostaria de ser assim?
Por isso te digo e vais dar-me razão: cada vez que venho aqui, é como se pisasse devagarinho o jardim que me trouxe a tua amizade, o tempo em que lia embevecida as tuas peripécias, ora na fazenda, ora com os bebés, ora com a charrete! Pensas que me esqueci? Sabes porquê?
Porque o teu nome não ficou gravado na areia que a maré leva, mas sim na pedra, gravado para SEMPRE
Teabraço!
E é doce acordar sentindo este abraço, nesta manhã fria da nossa Serra , em pleno verão vestindo a bruma gris do inverno. E melhor ainda sentir o aconchegante abraço desta amizade que desafia a distância e o tempo, posto que é eterna e se veste da alegria e da inocência da infância. As meninas que fomos continuam trazendo os vinhedos, os miosótis e o doce baloiço das rosas brancas. Permanece a essência por mais que as inquietudes batam à nossa porta...
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