SONHOS E ENCANTOS

SONHOS E ENCANTOS

segunda-feira, março 30, 2020

Minhas memórias de menina

Minha irmã TÊ



Para falarmos da irmã,teremos que fazer uma pequena visita ao passado,à casa dos avós e à meninice de nossa menina.





Ainda em Manhumirim(o trem não fazia parte de suas vidas),a nossa menina de cachos,com cinco anos,foi agraciada com um presente de Deus e de seus pais:uma irmãzinha,linda e meiga,a quem foi dado o nome de Teresinha Maria,em homenagem à santinha de devoção da mãe.,que fazia parte da irmandade de Sta Teresinha do Menino Jesus.E a mãe,piedosa,contava-lhes a história da santinha e elas se emocionavam com a beleza desta e os sacrifícios a que se submetia.                                            


O nascimento da irmã foi uma alegria para nossa menina dos cachos.Só lamentava o tamanho da irmã...como brincar com ela,queria tanto uma companhia...

......mas gostava de exibí-la às visitas,como se fora uma boneca,um novo e precioso brinquedo...
       Era um encanto de criança,sorria para todos e dificilmente chorava...rostinho redondo,narizinho arrebitado e cachinhos castanhos.Com todos estes atributos a todos conquistava e nossa menina de negros cachos,alegre,porém geniosa,sentiu-se um pouco preterida,principalmente no carinho do pai,a quem muito amava e de quem sentia um enorme ciume.
Por sua natureza e seus efeitos, o ciúme se aproxima da inveja. Porém, entre ciúme e inveja permanecem algumas diferenças. Na inveja, sentimos que outros possuem um bem que desejamos para nós, enquanto no ciúme  entendemos um bem que julgamos nosso e que não desejamos ver partilhado com outrem. (Pierre Charon)

Porém o tempo passou,célere e absoluto e vamos encontrá-las,já maiores ,em Muriaé,estudando no mesmo colégio e se sentindo mais próximas,apesar da diferença de idade que as separava...a irmã era tímida e gostava de ficar em casa,brincando com suas bonecas e suas mobilinhas de casinha.Uma coisa possuíam em comum:ambas gostavam
de ler e de estudar (a irmã, mais que ela ,estudava muito),de escrever,de música e de cinema.Aos domingos,após o almoço,a matinê era sagrada.Alguns filmes de que gostaram muito:
-Cantando na chuva
-As neves do Kilimanjaro
-Luzes da Ribalta
-Ivanhoé,o vingador do rei
-A princesa e o plebeu 
-A um passo da eternidade
-Lili
E vários outros,naquele cinema de interior,as faziam vibrar e sonhar com um mundo distante e iluminado,com seus astros e estrelas inatingíveis.
E sonhavam muito as meninas daquela época...mergulhavam nos livros de M.Delly e viam a vida com óculos cor de rosa...príncipes encantados e galãs de Hollywood,Bonequinhas de Luxo e Noviças Rebeldes,alimentavam seus sonhos e sua imaginação...com suas saias rodadas rodopiavam em grandes e majestosos salões... suas sandalinhas de saltinho dois e meio as conduziam a um mundo ideal,utópico talvez,mas para elas,as fadas e princesas de outrora,legítimo e realizável.
Quando foi que o sonho acabou?


 

Biblioteca das Moças foi uma coleção de romances publicada pela Companhia Editora Nacional, no Brasil, entre 1920 e 1960, especializada em literatura para jovens mulheres. A coleção era composta por cerca de 180 volumes, compreendendo romances de vários autores, a grande maioria assinada por M. Delly. Publicados entre 1920 e 1960 pela Companhia Editora Nacional, de São Paulo, com a reedição de alguns exemplares nos anos 80. Os romances geralmente eram ambientados na França e possuíam enredos com estrutura bem definida[1]: o herói nobre e rico e a heroína plebéia e pobre, perfazendo uma trama complexa que finalizava com o casamento feliz, tal qual nos contos de fada. O casamento era apresentado como a redenção da mulher, e todos os romances terminavam com o encontro do herói com a "mocinha".




          E as duas irmãs,um belo dia,receberam a notícia:um novo bebê estava a caminho,e a mãe,que já não era tão nova,estava a inspirar cuidados.Uniram-se mais ainda,uma com quinze,a outra com dez anos,em uma tarefa:cuidar da casa,não deixando que a mãe se sobrecarregasse .E foi a avó,a encarregada de ensinar às duas as lidas da casa,varrer,encerar,lavar a louça e as PANELAS!!!Ai, que esta era a pior parte, mas onde encontravam uma forma de brincar(já haviam lido Pollyana e praticavam o "jogo do contente")...tinham que buscar cinza de arroz em um grande armazém e as pilhas de cinza (altíssimas e perigosas,pois havia brasa embaixo) eram ótimas para se escorregar,mornas e macias.Deus as protegia e nunca se queimaram.
Todas as noites tomavam guaraná e dividiam a garrafa irmãmente,colocando-a contra a luz para não errarem.Elas se amavam,muito,mas havia também momentos de briga,que a mãe resolvia,ternamente, na base do beliscão e do castigo.
      E nas férias iam para a praia,ou para Fervedouro,uma cidadezinha pequena onde havia um hotel com uma piscina de água mineral,corrente,na qual a irmã aprendeu rapidamente a nadar...e ela,com seu pavor à água,nem entrava. 
FERVEDOURO_MINAS GERAIS-Laudemar Martins Fonseca


 E a nossa menina,na companhia de sua irmã,passava as férias lendo e fazendo enormes caminhadas,neste lugar de clima privilegiado e de águas minerais saudáveis e curativas.E foi neste local,numa bela tarde,em que se deliciavam com o canto dos pássaros e viam o dia correr preguiçoso,que um pernilongo a picou na perna e deixou-a imobilizada por vários dias...era alérgica e ninguém disto suspeitava...sua perna inchou e se cobriu de feridas que escorriam e se propagavam.Havia um médico hospedado no hotel e,consultado,decretou:-Vamos ter que amputar esta perna.Mas  o pai não aceitou esta sentença e levou-a para Carangola,onde moravam os avós e um primo médico...ainda bem que o pai não aceitou a primeira opinião.A perna foi devidamente tratada e curada pelo primo.


Novamente interromperei o fluxo da narrativa.Voltarei daqui a uma semana...aguardem.

14 comentários:

chica disse...

Pena!" Estava tão bom! mas vamos te aguardar na próxima semana!" ter irmãs é um presente de Deus mesmo! Coisa boa! beijos, tudo de bom,chica

Leninha Brandão disse...

Obrigada, minha querida!!!
Neste isolamento provocado por esta terrível pandemia,publicarei mais amiúde.E poderei visitar você com mais frequência...o que é muito bom!!!
Um beijo carinhoso,amiga Chica!!!

Roselia Bezerra disse...

Boa tarde de paz e saúde, querida amiga Leninha!
Que boa recordação me trouxe!
Adorava Ivanhoe... Poxa, bem bacana ter posto aqui!
Guaraná antártica... Hum! Que delícia!
Poliana eu amei nas três fases que li. Uma beleza o jogo do contente no
Pena a amputação, mas vamos ver o próximo capítulo se Deus quiser!
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno

Anônimo disse...

Adorei sua narrativa da vida da menina dos cachos.
Não demore, volte logo!
Bjs Marilda.

" R y k @ r d o " disse...

Felizmente que existia esse primo que assim ajudou a que a perna não fosse amputada. Gostei muito de ler

Uma noite feliz

Leninha Brandão disse...

Rosélia,Marilda e Ricardo,

Muito obrigada pelo carinho de suas palavras. Vocês são muito especiais!!!
Um beijo!!!

manuela barroso disse...

Minha doce Leninha, de novo o meu atraso.
Mas tu entenderás o porquê.
E te lendo , tudo me soa a tão familiar porque o tempo leva- nos memória mas traz.nos sensações.
Recordei a tua irmazinha feita boneca de cachos , graciosa como tu .
Não é fácil para quem teve todas as atenções, embora adorasse a vinda da mana, ver .se relegada nas atenções anteriores
Mas interessante mesmo muito é a tua lida de casa com as panelas que altura seriam negras . Não eram?
Mas o que amedronta a nossa menina na flor da adolescência ?
Suponho que esse novo rebento seja o teu amado mano !
A vida corre , mas neste momento vai fazer um recuo para ver o que a menina dos caracóis fez anteriormente
Beijo grande!🌷

Leninha Brandão disse...

Sei e compreendo os teus motivos, minha querida, neste momento de tantas incertezas e tanto trabalho. Tenho também ficado em casa tal qual uma barata tonta, executando tarefas às quais não estava mais habituada.
E a lembrança da menina que lutava para se habituar às tarefas domésticas em uma época em que só lhe interessava brincar e flanar pelas ruas com as colegas
se aproxima deste HOJE, tão pouco condizente com a minha idade atual que deveria ser de passeios e liberdade de ir e vir. Mas, enfim, é o que temos e é melhor aceitar com um sorriso do que ficar lamentando pelos cantos.E o sorriso é a melhor arma para enfrentar todas as situações, não é mesmo?
Ah, as panelas eram pretas mesmo, de ferro e tinham que ser "areadas" até ficarem brilhando, muitas vezes com areia,cinza e sabão,exaustivamente!!!
Obrigada pela visita, minha doce amiga!

Beatriz Bragança disse...

Querida Leninha
Que bom tê-la de volta, contando-nos histórias verdadeiras que parecem de encantar!
Estou maravilhada com tudo o que leio. a sua narrativa é extremamente agradável, quando acabámos, queremos mais.
Vou tentar vir aqui todas as semanas.
Entretanto, por favor, cuide de não sair de casa.
Um beijinho
Beatriz

Dalva Rodrigues disse...

Que escrita deliciosa, Leninha, cada detalhe, a gente viaja, compõe a cena na mente naturalmente, é o efeito da leitura de uma excelente narrativa.
Que momentos de tensão, em relação a diagnósticos, sempre é bom ouvir uma segunda (quiçá, terceira) opinião,
Goste da diferença entre inveja e ciúme.
Outro abraço, amiga!

Leninha Brandão disse...

Beatriz querida,
Bom demais ver você novamente aqui, acompanhando as aventuras da menina que ainda habita em mim. Obrigada por suas carinhosas palavras...volte sempre... é uma honra receber a sua visita. Um beijo carinhoso pra você!

Leninha Brandão disse...

Muito querida amiga Dalva,
É sempre uma alegria e imensa honra, receber a sua visita e sentir a verdadeira emoção em suas palavras.
A menina dos cachos agradece de coração, viu?
E concordo plenamente com você, é sempre importante ouvir uma segunda opinião, em quase tudo na vida e, principalmente nas questões de saúde.
Gratidão, amiga!

Leninha Brandão disse...


Recebi agora de minha amiga Wilma!

Amei seu blog ! Li Memórias de Menina ...um encanto !!!
Sua narrativa flui ,como as águas cristalinas de um riacho. Calmamente, nos transporta a uma infância, que se assemelha muito
a de sua narrativa. Minha infância tb aconteceu em um sítio, entre galinhas, patos e pássaros. Tb tenho uma irmã bem mais nova que eu, ( coincidência)que não possuía cachos, mas tranças que alegremente se movimentavam quando ela corria ou brincava de pular corda.
Nós éramos felizes, inconsequentemente felizes e nunca pensávamos no amanhã. O hoje nos bastava.

Leninha Brandão disse...

Muito obrigada, minha querida amiga Wilma! Creio que você deveria ter um blog também...tem um modo de escrever tão especial e delicado, uma narrativa gostosa e limpa. Vai agradar muito e além do mais terá a satisfação de escrever sempre, o que parece lhe agradar muito.
Um beijo carinhoso pra você!

Minha querida e linda sobrinha Marcela, A vida é uma eterna ciranda a nos conduzir prá lá e pracá... e em uma destas voltas viemos para Tere...

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