Memórias de uma senhorinha
E a nossa senhorinha viajava para os sonhos da baronesa, enquanto seguia para a Faculdade em Barbacena. O ônibus sacolejava pela estrada esburacada porém o seu pensamento estava longe... imaginava um baú com as roupas da baronesa que, naturalmente viajaria em um vapor...e, também , imaginava os ardis dos quais lançaria mão para convencer aos pais da necessidade que sentia de visitar as aldeias ancestrais em Portugal...e os preparativos que antecederiam a viagem, com as mucamas se desdobrando para preparar, desde as roupas de finos tecidos aos trajes de gabardine e linho, em cores pastéis e bordados com delicadas e finas linhas.
E ao pensamento lhe vinha um poema de Pessoa, preferido da baronesa e que estava entre as cartas do Baú de latão:
E ao pensamento lhe vinha um poema de Pessoa, preferido da baronesa e que estava entre as cartas do Baú de latão:
Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.
Alberto Caeiro - O Guardador de rebanhos
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.
Alberto Caeiro - O Guardador de rebanhos
...e despertava de seus pensamentos com a brusca freada do ônibus parando na rodoviária de Barbacena e trazendo-a de volta á sua prosaica realidade...nada de rendas finas, nada de linhos e organzas, nada de bordados com finas linhas...apenas uma professorinha vestida com uma camisa masculina, uma calça jeans surrada e, nos pés, suas indefectíveis botinas de couro atanado, tão surradas quanto os jeans...
A
parada na pastelaria do Zezé fazia com que a realidade se tornasse mais vívida: um pastel com caldo de cana levavam o romantismo para bem longe...
Mas devo falar deste pastel...os prazeres da Senhorinha eram bem diferentes dos da baronesa e ela saboreava aquele pastel como se fora um fino acepipe, dourada iguaria que a conduzia á presença da avó, inesquecível vovó Quitita que era a sua referência nesta matéria, preparando pastéis e as deliciosas " mentirinhas" que enfeitaram e alegraram a sua infância...
Ah, se não conhecem as " mentirinhas" devo lhes explicar que eram massinhas de pastel recortadas em tirinhas e fritas... dos deuses, como diria minha irmã...
Não devo me alongar mais...
Eu vou, mas voltarei...
Leninha Brandão
12 comentários:
Além de me deliciar com tuas palavras e texto,. fiquei babando pelos pastéis,rs ótima leitura! bjs, chica
Que viagem linda, a dos sonhos e a da memória...
Que bom assim!!
Beijo, Leninhamada!!
Minha querida amiga Chica, obrigada! Ah, aquele pastel era mesmo di-vi-no!!! Bjsssss
Helenamada, tão bom saber que gostou! Muito obrigada pela visita e pelo seu carinho!!! Um beijo!!!!!
Boa noite dominical, querida amiga Leninha!
Senti-me no trem... Na parada, comi dois pasteis, um de queijo e um de palmito bem quentinhos com um docinho caldo de cana.
Levei as mentirinhas para o restante da viagem.
Gosto de ler um texto assim tao bem escrito com delicadeza de alma e muita sensibilidade.
Parabéns, amiga!
Tenha dias felizes!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Nem imaginas o quanto aprecio a tua imaginação tão fértil, minha querida Leninha !
A vida da nossa Senhorinha é contraposta com a vida da baronesa . Se por um lado a nossa dama sonha com a sua viagem , não é menos certo que vive a incógnita do seu futuro que pode fugir ao seu controlo .
Mas a nossa Senhorinha com os pés bem assentes na terra , fala do que sabe e sabe o que diz . Quão belo é recordar essas especialidades e ainda poder matar saudades porque está bem ao seu alcance !
Gostei desse desdobramento onde as duas personagens são desenhadas com precisão e credibilidade narrativa .
És uma romancista ! O Alexandre tem a quem sair , já se vê !
Vou com vontade de voltar
O meu carinho minha doce Leninha! 😘
Amiga Rosélia,
Também já viajei neste trem, pequetita ainda, com meus pais e minha avó. Poderia ter apreciado mais a viagem , porém passava muito mal o tempo todo o que fazia de algo prazeroso um verdadeiro pesadelo. Mais tarde , já mocinha consegui viajar curtindo as belezas da paisagem e as delícias dos pastéis nas estações. E era muito bom!
Muito obrigada, minha querida! Também lhe desejo dias felizes e tranquilos!
Um beijo carinhoso!!!
Manu querida,
Primeiramente preciso te falar da gratidão que sinto por estares a me dedicar a tua atenção e carinho em hora tão avançada. Obrigada, mil vezes obrigada!
E a leitura que fazes da minha narrativa me alegra por demais o coração que se sente acolhido e abraçado por tuas palavras. És verdadeiramente a amigairmã mais doce e meiga que alguém poderia almejar.
E por falares no Alexandre me fizeste lembrar que não lhe enviei o link,tratarei de fazê-lo...hoje mesmo!
E , como dizia o meu sogro, devo dizer-te:
"É muita honra para uma pobre marquesa" ser assim considerada( Uma escritora) por alguém com o teu cabedal literário. Grata , minha doce e meiga amigairmã!!! Um beijo carinhoso!!!
Que narração deliciosa, Leninha!!
Os detalhes dos pensamentos fazem o relato ser atual e a gente viaja junto, seja com a baronesa ou com o pastel e caldo de cana da Senhorinha indo para os estudos!
Abração e ótima semana!
Dalva querida,
Sua visita sempre me traz alegria, acompanhada da gratidão por suas palavras tão gentis e carinhosas. Uma semana muito feliz e abençoada para você também, minha amiga!!!
Ah , Leninha Brandão, ver você recordar seus tempos de faculdade e vivências em Dores de Campos...época feliz de momentos que ficaram no passado,
agora só restam as lembranças. E que saudades daquele pastel do Zezé!!!!
Tão bem narras o percurso do trem da Vida que já vamos nas portas do percurso de um ano de viajem. Os teus relatos dos sentires são deliciosos e mantêm iguais sensações como a Senhorinha já fazia despertar nos tempos passados.
Parabéns.
Beijo
SOL
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