SONHOS E ENCANTOS

SONHOS E ENCANTOS

sexta-feira, abril 17, 2020

Minhas memórias de menina





 Flores eram sua paixão e cuidava delas com alegria,desvelo e mil cuidados...

.................os mesmos que tomava com o irmão, pequeno e frágil... e todas as noites a encontrávamos cantando para ele dormir as doces canções que ouvira um dia da avó.
 E se desdobrava em cuidados, como se ele seu filho fosse... e corria em busca do médico da família, ao menor sinal de febre ou dor do irmãozinho... preocupava-se tanto quanto a mãe e dedicava uma parte do dia a brincar e contar-lhe histórias.


Mas nem tudo era colorido e nem tudo eram flores na vida de nossa menina... uma fase conturbada surgiu para perturbar seu sono e seus sonhos... o namorado, aquele que parecia um príncipe, em sua charrete e seu cavalo branco, começou a beber e este,naquela época, era um vício inaceitável, principalmente pelo pai, enérgico e severo, que nunca havia bebido e não concordava mais com o namoro... nunca se havia manifestado  mas agora era totalmente contra.
Já falei, anteriormente, sobre a obediência das meninas daquela época às ordens paternas e maternas.Nossa amiguinha não fugia à regra, mas tentou manifestar a sua opinião, no que foi prontamente rechaçada pelos dois... não poderia mais continuar aquele namoro e, pronto, estava decidido. Lágrimas, pedidos, nada adiantou... e as colegas também partilhavam as ideias paternas e vinham aconselhá-la e tentar fazê-la entender que nada poderia existir de bom em um relacionamento com um "beberrão".
Ela se opunha a estes conselhos, tentava argumentar até o dia em que ele mesmo veio lhe provar que a razão estava com todas estas pessoas que lhe queriam tanto bem... envolveu-se em uma briga em um bar e isto nem ela poderia aceitar. Foi para casa e concordou com os pais ,que lhe haviam proposto uma viagem para a casa da tia que morava em Carangola.Adorava a tia e sentia que lá haveria de esquecer este episódio de sua vida...
E, malas e bagagens prontas, lá se vai a nossa menina, para a casa de sua querida tia Ruth.

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A casa da tia

Antes de falar sobre a casa propriamente dita, preciso lhes apresentar a cidade de Carangola

Localização

Situada na encosta do Planalto Atlântico, Carangola está a leste do estado de Minas Gerais, pertencendo a mesorregião da Zona da Mata.
A posição geográfica de Carangola polariza a atenção de diversos municípios, dada a sua excelente estrutura de prestação de serviços, um significativo comércio e um latente processo de industrialização, recebendo influência de Belo HorizonteRio de Janeiro e Juiz de Fora.
O município de Carangola está constituído atualmente pela sede e pelos distritos de Alvorada, Lacerdina e Ponte Alta de Minas. Carangola é circundada pelos municípios de Divino e Espera Feliz, ao norte; Caiana,Espera Feliz e Faria Lemos, a leste; Fervedouro e São Francisco do Gloria, a oeste, Pedra Dourada e Faria Lemos, ao sul.
A igreja onde foi batizada

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A cidade de Carangola, era para ela a terra onde moraram os avós paternos, durante a sua infância... a avó tão querida e o vovô/padrinho, sempre em sua memória. Voltar à Carangola... era voltar para os braços roliços da terna vovó Alzira, era relembrar o bisavô João Carlos, alegre e brincalhão e o avô, alto e magro que a levantava em seus braços e a fazia se sentir uma princeza. As histórias do avô, que acordava os empregados da fazenda com seu grito forte: "Olha o café!" e se vangloriava de não precisar de sino em sua fazenda... o café servido a todos os colonos na cozinha da fazenda, com as broas de milho, os biscoitinhos de nata e polvilho, os pães assados ali mesmo e o leite quentinho sobre o fogão à lenha.
Os causos do Chico Moleque, do pai e dos tios barulhentos e alegres, o circo que era montado na fazenda para divertir os colonos e suas famílias (mas ele não dava só o circo, dava o pão, a fartura e o companheirismo), os bailes, a venda... só a fazenda de meu avô e suas histórias dariam um livro e dos bons!

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Mas o avô e a avó já não habitavam esta terra,

estavam em fazendas do outro lado da vida.
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E nossa menina chegou a Carangola, sem mágoas do pai ou da mãe, ela já cultivava o hábito de não deixar a tristeza fazer moradia entre os caracóis de seus cabelos e gostava do  "jogo do contente" da Pollyana...

A tia recebeu-a com uma enorme alegria e um lindo sorriso (ela não se lembrava da beleza daquele sorriso), abraçou-a com carinho e ofereceu-lhe não só a casa mas o colo, o afeto, a ternura...
Era época de Exposição Agro Pecuária e isto significava passear durante o dia no Parque de Exposições e à noite os bailes no Clube da cidade. E a tia providenciou trajes de festa, sapato de salto seis e meio, carteira social e o mais importante: companhia, um par para dançar!!! O cunhado da tia estava na cidade e seria o seu acompanhante e cicerone durante o dia. Alto, olhos azuis, sorriso maroto, era como se realmente um príncipe se houvesse materializado... nesta idade as grandes paixões são esquecidas e dão lugar a outras, com uma facilidade incrível.

À noite, a tia, tal qual uma fada madrinha, a vestia e enfeitava e nossa menina,radiosa e feliz, partia para o baile, não em uma carruagem,mas em uma camionete Chevrolet verde, que não se transformaria em abóbora...
E com um príncipe ao seu lado!!!


E aprendeu a dançar e os boleros,valsas ,baiões, a   faziam rodopiar pelo salão... um samba canção dolente a conduzia e embalava com seus acordes doces a provocar-lhe suspiros... e era como um sonho.


Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda- Lamartine Babo
Eu sonhei . . .que tu estavas tão linda . . .Numa festa de raro esplendor, Teu vestido de baile . . . lembro ainda: Era branco, todo branco, meu amor ! . . . A orquestra tocou umas valsas dolentes, Tomei-te aos braços,  fomos dançando, ambos silentes . . . E os pares que rodeavam entre nós, Diziam coisas,  trocavam juras a meia voz . . .
Violinos enchiam o ar de emoções E de desejos uma centena de corações . . . P'ra despertar teu ciúme, tentei flertar alguém, Mas tu não flertaste ninguém ! . . .Olhavas só para mim, Vitórias de amor cantei, Mas foi tudo um sonho . . . acordei ! . . .

Mas não era um sonho e ela rodopiava e se sentia em um conto de fadas...

E se passaram os dias e o doce convívio estava quase a terminar... não houve um pedido formal de namoro, mas ele prometeu que a visitaria em setembro... e ela se foi, com o coração apertado, mas com a convicção de que a primavera seria um marco em sua vida.


 Eu vou, mas voltarei, amigos........................

Bjsssssssssssss

8 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Boa noite de final de semana, querida amiga Leninha!
Sou apaixonada pelas aventuras da Senhorinha.
Eu sonhei que ti estavas tão linda... Meu pai adorava e eu herdei o gosto.
A sargenta na minha adolescência era feminina. O pai, um doce de compreensão.
Fui constante no quesito príncipe do amor platônico, rs...
Muito interessante a lição da Pollyana. Inesquecível.
Vamos no jogo do contente nesta fase tão difícil que vivemos, amiga.
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

chica disse...

Leninha, que belos momentos de leitura terna, doce ,tu ofereces pra nós que aqui passamos! Tão bom saber dessa senhorinha, tuas viagens sua família, sonhos, lugares! Adorei! bjs, chica e TE CUIDA!

Beatriz Bragança disse...

Querida Leninha
Começa a lê-la e viajo imediatamente ao passado.
Por cá era exactamente igual! Não é não e nem se discute. As ordens e decisões dos pais eram para se cumprir sem questionar. Tiravam-se informações sobre o par pretendido pela menina e. se não conviesse, acabava tudo ali, como se o nosso coração fosse uma espécie de máquina, com botões para ligar e desligar.
Agora, à distância, acho que estavam certíssimos.
Muitos parabéns, mais uma vez, pelos deliciosos momentos que a sua escrita peculiar me proporciona.
Feliz sábado.
Um beijinho
Beatriz

manuela barroso disse...

Sabes,
É fantástica a forma como as coisas se sucedem qual máquina de fazer novelas .
Quase imaginava que pela primeira vez ias ultrapassar as rédeas e cavalgar com esse príncipe. Mas antes que tudo se materialize sabes ouvir a razão e alias o bom senso ouvindo teus pais . E quem já não passou por uma situação como a tua ? O mundo desaba porque o sonho se desfaz .
Mas tens sempre alguém ou algo que te impulsiona e te ajuda a mudar de opinião e eis que és sempre bem sucedida
A fazenda ... quantas saudades guardo dos pormenores desse sítio paradisíaco, com cheiro a café e pão quente !
Não é a única fazenda com que despertaste sonhos que nunca vivenciei , mas a forma como pintas todos os pormenores , me fazem viajar contigo .
Mas como tudo tem que dar um tempo, voltei para o baile e vi-te a rodopiar , logo com 6 cm!
Quem ou o que te intimida ?
Eis por que ainda continuas a ter os caracóis cheios de alegria e a graça de uma boneca
Gostei de ver as fotografias do Dr Júlio ( Julinho ) , um charme de bebé
Também vou mas volto
E agora ...a nossa menina dos caracóis nos dará novas é surpreendentes histórias ...
Um grande e carinhoso beijinho

Leninha Brandão disse...

Manu muito querida,
Não sei como colocar o "responder" em meus comentários, porém vou visitando os blogs e respondendo por lá. O teu como foi o último será respondido aqui. Aliás, nem sei se as pessoas retornam aqui para ver as respostas.
Gratidão por teres deixado as tuas inúmeras ocupações pra dedicar um tempo às minhas Memórias...sei que tua lida é grande.
Mas vamos ao teu comentário:
Sabe, Manu, hoje, ao reler o que escrevi em 2012, tenho o distanciamento necessário para me ver menina de quinze anos e sentir o mesmo amargor que dominou o seu coração e a sua alma, ao ter que renunciar a um sonho acalentado desde os treze anos. Foi um sofrimento muito profundo e uma dor lancinante, como só acontece nesta idade, quando as emoções afloram com uma intensidade avassaladora. E a nossa menina era assim, intensa, plena em tudo que vivia. Porém, passava de uma dor que parecia"eterna" , para o oposto, uma alegria desmedida e desmesurada. Era dos extremos, como dizia a avó...
E dançar sempre foi um sonho para ela, o fruto proibido, não do Éden, mas da sua realidade em uma época em que obediência era a lei doméstica.
E, tendo o apoio da tia ela se sentia no céu, ou em algum dos livros românticos que a transportavam para outro plano.
Foi uma experiência nova: viajar para o mundo dos adultos DANÇANDO!!!!

" R y k @ r d o " disse...

Deixar vaguear o imaginário por "sonhos" futuros pode ser delicioso. Deixar viajar o pensamento pelo passado, também o pode ser mas, regra geral, as recordações mais fortes e presentes, são as más experiências que se tiveram e/ou sofreram na vida

Muitos pais queriam fazer o casamento aos filhos, com maior incidência às filhas. Os negócios, as herdades, a vida mundana - no bom sentido - eram a regra.

Una davam certo, outros eram um autêntico terror de vivência. Claro que hoje constroem-se Estórias baseadas em factos (quase) reais. Nem tudo foi assim tão mau, dizem uns. Outros dizem precisamente o contrário

Gostei muito do seu blogue. Gostei de ler, dentro de uma perspectiva positiva, o seu texto
.
Tenha um domingo feliz

Dalva Rodrigues disse...

Ainda bem que teve essa oportunidade de se afastar da "tentação" do amor, novos ares, lembranças e um belo rapaz!
Os sentimentos são intensos nesta fase, tanto os vividos como os apenas desejados.
Boas emana, Leninha, abração!
Ah, eu leio todas as respostas que chegam pelo e-mail e fico muito feliz!

Leninha Brandão disse...

Amiga Dalva,
Ainda sob o impacto de seu texto lá no blog, preciso respirar pra lhe responder. Olha, minha querida, nestes tempos de pandemia o que me resta é o refúgio das minhas Memórias... não tenho tido muita inspiração pra escrever nada de novo e fugir desta realidade que não posso mudar é meu recurso.
Covardia? Não sei, mas foi o que escolhi.
O nosso povo hospitaleiro contempla entristecido esta realidade.

Minha querida e linda sobrinha Marcela, A vida é uma eterna ciranda a nos conduzir prá lá e pracá... e em uma destas voltas viemos para Tere...

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