SONHOS E ENCANTOS

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segunda-feira, dezembro 06, 2010

Ouro Preto

Espantando fantasmas com tutu de feijão

Em 1946, quando Dona Mariazinha comprou a casa aonde hoje funciona o restaurante Boca da Mina, em Ouro Preto, muitos disseram que estava louca. Como poderia alguém comprar um lugar mal-assombrado? Os medrosos se referiam a um buraco no terreno que servia de acesso à antiga mina de Chico-Rei. Dentro da mina, no século XVIII, muitos escravos morreram e seus fantasmas poderiam ainda estar no local. Mas Dona Mariazinha nunca acreditou nesse tipo de histórias e, ao contrário do que muitos pensavam, achou que a mina iria lhe trazer dias de glória.
O restaurante Boca da Mina está localizado fora do eixo central onde está a maioria dos estabelecimentos da cidade. Quem chega ao local, logo se surpreende com o aconchego e a hospitalidade de Dona Mariazinha e sua filha Bia, a encarregada de administrar o restaurante nos dias de hoje. “Formei todas as minhas filhas com dois diplomas, o colegial e o de dona de casa”, conta a mãe orgulhosa. “Se não fosse assim, nunca teriam tanto carinho e cuidado com as coisas da casa”, diz ao referir-se da satisfação de ver Bia cuidando do restaurante com tamanha paixão.
O local possui muito verde do lado externo: plantas, flores, pé de limão capeta, além de um pequeno lago com carpas. Do lado de dentro, as paredes são de pedra e os bancos de madeira. Uma enorme roda de carro de boi decora o salão principal. O cardápio oferece a típica comida mineira: frango ao molho pardo, frango com quiabo e angu, tropeiro com lombo ou costelinha, broto de samambaia, bambá de couve.
Bia sugere o tutu com ovo, couve, angu, lingüiça e torresmo. Ela conta que não deixa nada pronto. Tudo é feito após o pedido do cliente “O torresmo é frito até sua crocância ideal, o tutu é batido e refogado na gordura do torresmo, e a couve é cortada bem fininha”. O aroma que vem da cozinha aumenta a fome. Quando a comida chega à mesa, Bia, atenciosa, adverte o cliente sobre as panelas de pedra que estão bem quentes, e pede que sirva primeiro da couve para esta não queimar.
Enquanto Bia supervisiona o restaurante, Dona Mariazinha auxilia os visitantes junto à entrada da mina. Ela conta que dos 1.500 metros de sua extensão, 300 são iluminados. A mina é apertada e úmida. Deve-se tomar cuidado com escorregões e inclinar o corpo para não bater a cabeça no teto. O turista sente o quão difícil era a vida no passado.
Do lado de fora, Dona Mariazinha pede aos turistas para assinar o livro de visitas. E depois faz questão de mostrar a assinatura do presidente Lula. Junto a um mapa na parede, a anfitriã, mostra os desenhos dos caminhos subterrâneos de Ouro Preto. No passado, a cidade podia ser percorrida de um canto a outro utilizando os atalhos da mina. Hoje são poucos os acessos ainda preservados. Ao contrário de Dona Mariazinha, muitos tiveram medo dos fantasmas e acabaram esquecendo de preservar a história das minas da antiga Vila Rica.

Chico Rei

Francisco era o rei de sua tribo na costa da Guiné quando foi tirado à força de seu povo por comerciantes inescrupulosos. Jogado num navio negreiro, seguiu rumo ao Brasil, onde foi vendido como escravo e enviado junto do filho para trabalhar nas minas de ouro, em Vila Rica. A custa de muito esforço, juntou economias e conseguiu comprar a alforria de seu filho. Depois, junto dele, trabalhou para comprar a sua própria alforria. Após o feito, Francisco foi visitar o Major Augusto, proprietário da mina de ouro onde trabalhava, que se encontrava doente. Recebeu deste a proposta de venda para a exploração do local. Francisco aceitou, pois sabia que com o valor obtido do ouro, conseguiria comprar a liberdade de muitos escravos. E assim o fez. Muitos dos antigos membros de sua tribo na África estavam livres. Francisco havia conseguido seu objetivo: formar uma nação longe de sua terra. Porém, para os membros de sua tribo, Francisco nunca havia deixado de ser o Chico-Rei.

Onde Comer

Restaurante Boca da Mina
Rua Dom Silvério, 108 (31) 3551-1749

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Minha querida e linda sobrinha Marcela, A vida é uma eterna ciranda a nos conduzir prá lá e pracá... e em uma destas voltas viemos para Tere...

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