Memórias de uma senhorinha
Dores de Campos...cidade
calma, tranquila e repleta de belas histórias. Seu povo hospitaleiro a
conquistou ... não havia a Laje Encantada porém a Figueira Encantada, cuja
beleza apresentava um fascínio irresistível
Ao fundo da praça da figueira, ao lado direito, vê-se uma casa comprida, grande e antiga (com formato em L). Esta casa foi o que se chamava, até o século XIX, de “Casa Grande”, denominação dada à casa principal de uma fazenda. Foi uma das primeiras casas do Distrito de Dores do Patusca no século XVIII e era dividida em três compartimentos, onde residiam três famílias (vale destacar que atualmente, esta casa está muito modificada, pois sua estrutura original era de pau-a-pique, assoalhos de tábuas, portas e janelas em madeira nobre e maciça, uma casa realmente de fazenda).
Nesta mesma época,séc XVIII, foi construído em sua proximidade um curral, onde foram fincados alguns mourões, um destes parte de uma figueira, que ainda verde, em pouco tempo começou a brotar. Com o passar dos tempos, esse mourão veio a se transformar em uma grande e bonita árvore, que, pelo formato de seus galhos, assume a forma de guarda-chuva e que tem uma dimensão bem definida pelo tronco que mede cerca de dois metros de diâmetro e galhos de quatorze metros.
E em seu peito começou a
brotar um sentimento de pertencimento àquele lugar. A magia da árvore secular, o modo como as pessoas reverenciavam a sua presença, a casa em que morava, com sua cozinha imensa lembrando uma cozinha de fazenda, foram fatores preponderantes desta mudança de atitude em relação à nova cidade. Nesta ocasião conheceu uma pessoa que seria muito importante em sua vida... seu amigo Beto, pessoa dotada de uma sensibilidade transbordante, um artista nato que organizava as festas da cidade e trazia alegria aos lugares onde chegava. Já estava vencendo o contrato de aluguel da casa e ele a convenceu a se mudar para outra na avenida principal da cidade. Houve , então, uma mudança radical em sua rotina. A amiga Drinha fez concurso para a área de fiscalização do Estado e teve que assumir o seu posto em Iturama, cidade do Triângulo Mineiro, distante de Dores de Campos e onde faria plantões de dez dias...só viria após este tempo, ficando em casa durante vinte dias.O filho mais novo, Dudu, viria morar com ela ...esta história é longa, cheia de peripécias e merecerá um capítulo à parte.
Beto passou a ir todos os dias à sua casa, após o trabalho e com ele levava os amigos: Pacelli ( O Tiel) , Quincas ( Filho do proprietário da casa, Myriam e Maria José. Mais tarde o também grande amigo Emetério , primeira pessoa trans que ela conheceu, em uma época em que não se falava sobre este assunto.Amigos fiéis que lhe davam suporte e apoio em sua nova vida.
E ,como os amigos que se reuniam na fazenda, eram realmente indispensáveis à sua vida e até hoje habitam as suas recordações.
E quando a Drinha estava em casa retomavam os passeios aos arredores buscando conhecer a riqueza histórica e as belezas naturais da região. Na estrada para Prados conheceram a casa da Baronesa, belíssima construção dilapidada pelo tempo mas ainda rica de mistério e magia.
...........................................................................................................
Minas são muitas , já dizia Guimarães Rosa e necessário se faz concordar .
E Drummond afirmava em seu soberbo poema:
E com a palavra do Mestre eu me despeço. Mas voltarei, amigos!
Leninha Brandão