SONHOS E ENCANTOS

SONHOS E ENCANTOS

quinta-feira, setembro 15, 2011

Cenas de infância no interior --- Elias Fajardo


    SER  TÃO  MENINO

  ELIAS FAJARDO


Romance de formação de Elias Fajardo explora a Zona da Mata mineira

(Ronize Aline – O Globo, caderno Prosa & Verso, 10 de setembro de 2011)

Não importa em que lugar, em que língua, se sob o frenético cotidiano de um centro urbano ou na aridez de um sertão distante: a passagem da meninice para a adolescência é sempre cumprida na ânsia de deixar definitivamente para trás os resquícios da infância. E é dessa urgência universal que se tem ocupado o romance de formação, gênero que se dispõe a tentar captar esse momento de fugidia compreensão e traduzi-lo em palavras. O romance de formação (ou Buldungsroman, em alemão) retrata de que forma fatos e acontecimentos externos agem sobre o protagonista, e seus efeitos sobre a gradativa formação interior do mesmo.

À aridez da realidade, contrapõe-se a imaginação






“Ser tão menino”, de Elias Fajardo – que será lançado na próxima quinta-feira, dia 15, a partir de 19h30m, na Moviola (Rua das Laranjeiras 280/Loja B) – , situa-se nessa tradição ao lançar um olhar carinhoso (mas nem por isso condescendente) sobre o menino, assim mesmo, sem nome, que vive na pequena Tebas, situada na Zona da Mata mineira, mas que poderia estar em qualquer lugar do mundo. Para virar moço é preciso, antes, enfrentar não só o “sertão proibido das Gerais”, como também aquele sertão íntimo onde os desejos secam antes mesmo de virarem lembrança. Mas à aridez da realidade nosso personagem contrapõe uma imaginação farta, e constrói memórias que correm soltas em busca de uma mocidade que acredita reservar-lhe grandes promessas. Dos passeios de charrete e jogos infantis, ele parte em busca de sensações desconhecidas, com o primeiro gozo, e experiências que o joguem de vez na mocidade.

Fajardo impinge à escrita a mesma urgência do menino, poupando o texto de supérfluos e fazendo-o jorrar num fluxo constante pontuado por metáforas e figuras de linguagem. O narrador se permite viver a imaginação do menino e contá-la como se história fosse e, assim, transformá-la em memória tal e qual os fatos vividos naquela terra de chão firme. Vez por outra, uma voz invade a narrativa, lembrando os coros gregos, chama a atenção e descortina o não-dito pela boca do narrador. Essa voz parece querer nos lembrar que são de outra gente, outros tempos, as recordações, que não nos pertencem. Como já não pertencem ao narrador, que tenta manter seu “eu”, como se já tivesse ele mesmo feito menino. “Cansei do personagem eu, mas se todos os que surgem nestas páginas somos eu, onde é que vou amarrar minha égua?”

O pintor se imiscui nas artes do escritor, que desde 1980 expõe aquarelas e pinturas, fazendo de cada parágrafo uma imagem a ser vislumbrada. “Mudas testemunhas de gestos ensaiados, as lentas lembranças do velho barbeiro tentam reter fugidias melodias; a falta de atenção do moço de ouvidos moucos quebra os acordes como uma marreta tritura a pedra fina.” Ou “os postes também galopam para não perder o baile da eletricidade, mas quem corre é o nosso herói, seguro na boleia do caminhão”.

Ao largo dos personagens principais vão desfilando outros personagens, que podem aparecer uma única vez mas, nem por isso, são menos importantes para entender o turbilhão que vai no peito do menino. É, principalmente, pelo olhar dos outros, habitantes daquela mesma terra e companheiros nas mesmas desventuras, que conseguimos defini-lo. E o autor dedica igual atenção e esmero a todos, seja a “cigana que se chega pro pai dizendo coisas, tocando pandeiro, cantando”, sejam as “mangas (que) amadurecem, pensativas, antes de desabar no chão”. Ou, ainda, a “casa que espia por quatro janelas dos lados e três na frente e sorri, tímida, através da pequena varanda, aliás chamada alpendre”.

Em alguns raros momentos o uso de ditados e clichês arraigados na tradição ameaça romper o tênue limite do excessivo. Mas rapidamente a sensação incômoda dá lugar ao jogo cadenciado das palavras, que Fajardo dispõe com maestria, voltando a imprimir seu ritmo singular à narrativa.

Em determinado momento, ele escreve: “As palavras são aves que fugiram de seus ninhos e vieram pousar aqui, nestas páginas que agora você está tentando ler. Cuidado: se fechar o livro de repente, elas levantam vôo e pode-se ouvir nitidamente seu rufar de asas”. É exatamente essa a sensação: o autor mantém as palavras cativas de sua narrativa e, no entanto, são palavras ariscas, fugidias, prontas para alçarem vôo e seguirem o vento rumo a outras histórias de outros meninos-moços. Portanto, é preciso apreciá-las antes que se dispersem

13 comentários:

Mônica disse...

Leninha
Obrigada pelo seu comentário.
Tio Zanine era médico, chegava cansaado e colocava pijama. O mais engraçado era que eu quando chegava do tabalho na escola fazia a mesma coisa e passei muito aperto pois as vezes estava sozinha e tinha que pedir pra esperar lá fora pra poder trocar de roupa.
Gostei deste seu texto pois quero ler este livro. Qualquer um que fale sobre os mineiros eu gosto.

com carinho Monica

Helena Chiarello disse...

Ah, que coisa boa!

Uma resenha de verdade é assim. A gente termina a resenha e fica morrendo de vontade de ler o livro.

Sempre ótimas tuas dicas, Leninhamada!

Por aqui, tudo certinho, amiga... Só uma correria danada que deixa a gente quase sem tempo pra escrever, postar, comentar... Mas tá bom dimais da conta! rss

Beijo gigante, querida amiga!

Glória Maria - Fadinha disse...

Leninha, quero ler correndo. Vou mandar um e-mail agora mesmo pra minha filha comprar e me trazer no sábado. Depois te conto. Fique bem. Carinhos e beijocas.

Renata Guidinha disse...

Minha querida Leninha!
Que luta tem sido mergulhar em "sonhos e encantos"... a sorte que sou teimosa e fico aqui insistindo até a porta ser aberta pra essa criatura aqui! Chamo, toco a campainha, bato palmas e nada. Hoje resolvi me sentar no portão. A casinha deu uma bobeira e fiz como Pedro Malazartes, escorreguei sorrateiramente aqui pra dentro,rrssrsr
Nem precisa dizer que fiquei doida pra ler esse novo livro, né? Já estou quase organizada com o novo ritmo de minha vida e parece que continuarei tendo o tempo necessário para as leituras que amo e tudo que incorporei ao meu cotidiano no último ano.
Quanto a diferença de idade, será que ela existe? Alma e coração não fazem parte desse jogo, dessa contagem. Isso é só um registro de cartório... os registros de Deus se sobrepõe a tudo isso e acredito que a distância o aproximação de vivências são traçadas por Ele. Não importa que embarcou no trem primeiro, a maravilha é poder em algum momento compartilhar a viagem e uma poder mostrar para a outra, toda a maravilha da vista que se tem do percurso.
Bjs de vida!
Renata http://cercaviva.blogspot.com/

Severa Cabral(escritora) disse...

Deve ser um livro instigante...ficamos com desejo a leitura...
bjsssssssssssssssss

Aleatoriamente disse...

Bom dia Leninha.
Passar por aqui, é sempre um prazer.
A literatura nos afaga a face e é bem assim que saio daqui acarinhada, pelo texto e tua sensibidade e doçura.

Beijinho amada

Sor.Cecilia Codina Masachs disse...

Leninha:
Obrigada pelo seu comentário.
Me cuesta mucho entender todo su artículo, pues el traductor no está muy acertado. Pero si una cosa ambas podemos entender es en el AMOR, ese idioma usted y yo lo tenemos gratis y aunque nos cueste entendernos, no deja por ello de dejar crecer nuestra cariño y amistad-Gracias por su ternura para conmigo
Sor.Cecilia

chica disse...

Linda resenha ,Leninha,Deu vontade! beijos,ótimo dia e fds,chica

tecas disse...

Pela bonita resenha, deve ser um livro interessante. Bem haja, pela divulgação.
Bjito e uma flor.

Evanir disse...

Que a Paz e o Amor estejam sempre presente em sua vida Sinta o que você diz...
Com carinho! Diz o que você pensa. Com esperança! Pense no que você faz.
com fé! Faça o que você deve fazer. Com muito AMOR. Sabe..
Eu ganho força,coragem e confiança E me sinto Feliz Através de cada mensagem que
VOCÊ me envia Continue me abençoando com seu carinho OBRIGADA DE CORAÇÃO
Beijinhos com muito carinho.
Evanir

Glória Maria - Fadinha disse...

Leninha querida, vim te trazer meu carinho e muitas beijocas. Aproveito pra te desejar um maravilhoso sábado azul. Muita luz. Fiquem bem.

Arione Torres disse...

Oi minha querida, vim aqui no seu lindo cantinho para te dizer que você é muito especial para mim amiga. Te desejo um lindo final de semana de grandes realizações, alegrias, saúde, paz. Que Deus continue te abençoando, bjus e fica com Deus...

manuela barroso disse...

Querida Leninha,
Uma "apresentação" que deixa a curiosidade suspensa e a vontade de confrontar sentimentos.
Quem não sentiu essa transição, quantas vezes tão incompreendida?
Como sempre, um post muito oportuno.Sempre a tua imensa sensibilidade!
Bom domingo
um grande abraço

Minha querida e linda sobrinha Marcela, A vida é uma eterna ciranda a nos conduzir prá lá e pracá... e em uma destas voltas viemos para Tere...

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