A alegria de ler Rubem Alves.
Por Erika Kokay
“Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses”.
"Este pensamento de Rubem Alves só pode ganhar concretude no desenvolvimento da humanidade pelo desenvolvimento contínuo do processo educacional, entendido este como a possibilidade de transformar permanente e processualmente o mundo e as pessoas como numa metamorfose longa e silenciosa.
Mas esse processo evolutivo só é possível com a convergência de várias transformações que começam nas pessoas que, mesmo diante dos sofrimentos causados pelas pedras no caminho, sabem superar, valorizando a capacidade, a criatividade, mas, sobretudo, a alegria de aprender e ensinar como nos ensina Rubem Alves.
Rubem, se me permita, acredita que a verdade se encontra no avesso das coisas, como na alegria de ser professor, pois o sofrimento de se ser um professor é semelhante ao sofrimento das dores de parto: a mãe o aceita e logo dele se esquece, pela alegria de dar à luz um filho.
Rubem nos ensina que Zaratustra quando tinha 30 anos de idade deixou a sua casa e subiu para as montanhas. Ali ele gozou do seu espírito e da sua solidão, e por dez anos não se cansou. Eis que cansado de sua sabedoria, sentiu a necessidade de “mãos estendidas que a recebam”. Mas, para isso, teve de descer às profundezas e recomeçar.
Assim se inicia a saga de Zaratustra, com uma meditação sobre a felicidade.
A felicidade começa na solidão: uma taça que se deixa encher com a alegria que transborda do sol. Mas vem o tempo quando a taça se enche. Ela não mais pode conter aquilo que recebe. Deseja transbordar.
Zaratustra percebe então que sua alma passa por uma metamorfose. Chega a hora de uma alegria maior: a de compartilhar com os homens a felicidade que nele mora. Seus olhos procuram mãos estendidas que possam receber a sua riqueza. Zaratustra, o sábio, se transforma em mestre. Pois ser mestre é isso: ensinar a felicidade.
Para Rubem Alves, o ensino das ciências, o ensino da literatura, o ensino da história,
o ensino matemática não são apenas disciplinas a serem ministradas, mas “taças multiformes coloridas, que devem estar cheias de alegria”.
Essa felicidade deve ser compartilhada com aqueles que recebem o ensinamento: os alunos.
A alegria de ensinar deve ter a contrapartida da alegria de aprender. Para Rubem,
são os alunos que atestam essa felicidade.
Em “Entre a ciência e a sapiência – o dilema da educação”, Rubem Alves nos fala que seus sonhos são suas esperanças e que eles são a imagem visível das esperanças. Eles não correspondem a nada que exista. Não têm, portanto, existência no mundo da ciência.
Rubem, na sua alegria exuberante, nos ensina que quando os sonhos assumem forma concreta (Hegel dava a isso o nome de “objetividade do espírito”), surge a beleza como a “Pietà”, de Michelangelo, o “Beijo”, de Rodin, as telas de Van Gogh e Monet, as músicas de Tom Jobim, os livros de Guimarães Rosa e de Saramago. Antes de existir como fatos, as casas e os jardins existiram como sonhos.
É irresistível a sua indagação: o que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem jardineiro, mas cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem.
Se todas as pessoas, desde a infância pudessem aprender nas escolas os direitos humanos de todas as pessoas, homens e mulheres, hoje crianças amanhã idosos, poderíamos sonhar e concretizar o sonho de uma humanidade mais justa, tolerante e igualitária.
As escolas, além de se dedicar ao ensino dos saberes científicos, deveriam, como nos ensina Rubem Alves, superar os seus muros curriculares, dedicando-se também em criar sonhos e fomentar esperanças.
Zaratustra dizia haver chegado o tempo para que o homem plantasse as sementes de sua mais alta esperança. E é essa a imagem que se forma ao lermos Rubem Alves escrever sobre a sua paixão pela educação e pela sua busca incessante de discípulos para neles plantar suas esperanças e sua imensa e prazerosa alegria de ensinar e transformar".
Deputada Distrital Erika Kokay – PT/DF
Mãe de três filhos, Leon, Pablo e Natascha, casada, nascida em Fortaleza-CE e residente no DF desde 1975, Erika Kokay começou sua vida política em 1976, quando ingressou na Universidade de Brasília.
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