SONHOS E ENCANTOS

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terça-feira, julho 21, 2020

MEMÓRIAS DE UMA SENHORINHA / VOANDO PARA AS FÉRIAS









Passa o tempo, implacável e frenético, passam as estações e nossa senhorinha, imersa em sua aventura particular de criar os filhos e encaminhar os filhos do coração, nem percebe a mudança das estações...

 E em sua charrete ela segue, sufocando a saudade que teima em beliscar o seu coração...sonha, ao balançar da marcha melancólica de seu "Paraíso", com os dias vindouros, o abraço familiar, o aconchego dos pais e dos irmãos...envolve, ao sacudir do trote do cavalinho, em organzas e cambraias, a ternura e o delicioso afago do ambiente familiar...vibra, a cada relinchar e o põe a correr, pensamentos céleres a percorrer o seu ser, trilhando uma estrada que a levará ao destino desejado.

E, como dizia Quintana:

O Tempo
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...

E chegaram as férias...arrumações de malas, aflições, e o dia não chega, meu Deus, esperar com calma, não adianta ficar ansiosa, não vai fazer o tempo andar...e os pensamentos se sucediam com a rapidez de um trem bala.

Ela, sempre calma e tranquila, sentia como se um vulcão entrasse em erupção em sua mente.

E, enfim, o pai telefonava avisando que a iria buscar para o seu aniversário, 13 de dezembro.

Prazer muito além do sobreviver...de viver com. Alegria muito além do apenas sorriso...riso em flor, em cadência, em Allegro ou em Andante Cantabile.

Era o ano de 1973...

 

O que aconteceu em 1973?


O ano de 1973 no Brasil estava sob o governo Médici, no auge do regime militar. O mundo estava em expansão e permitiu o aumento de investimento via endividamento externo.
A moda era a calça boca de sino. A musa, Darlene Glória. O ídolo esportivo, Emerson Fittipaldi. Na vitrola, rodavam os Secos & Molhados.
Foi o grande estouro do ano. Os Secos & Molhados eram liderados pelo inquieto Ney Matogrosso. Com letras descomplicadas e muitas músicas feitas a partir de poemas de autores brasileiros, seu primeiro disco chegou rapidamente ao topo das paradas de sucesso e vendeu mais de 800 mil cópias no ano. Com eles, a música popular retomava às últimas consequências a antropofagia musical tropicalista. O grupo formado por Ney Matogrosso, João Ricardo e Gérson Conrad se tornaria um fenômeno em pouco mais de um ano de ida. Eles já irromperam na cena conquistando o público, rendendo a mídia e abocanhando o mercado fonográfico. Mais que um grupo, Secos & Molhados se tornou um conceito. O trio já nasceu cult e, ao mesmo tempo, super-popular. Várias faixas do disco viraram hits. Os mais poéticos embeveciam-se com “Rosa de Hiroshima”, poema de Vinícius de Moraes, os jovens se embalavam na força de “Sangue Latino”, e a garotada ia à loucura com “O Vira”.
As guitarras, a poesia, os arranjos modernos, a maquiagem, o vocal insólito e o rebolado de Ney provocaram um espanto sem precedentes. Lançado em agosto de 1973, o LP Secos & Molhados vendeu 300 mil cópias em três meses. Em um ano, chegou à marca das 800 mil, quase o dobro do campeão de vendas da época, Roberto Carlos, com a banda lotando estádios por todo o país. Em agosto de 1974, o grupo lançaria o segundo LP, simultaneamente ao anuncio da saída de Ney. A saída do vocalista foi seguida pelo violonista Gerson alegando a mesma razão, o controle dos direitos autorais e das finanças por João Ricardo, o principal compositor e que tentaria ressuscitar (sem sucesso) o grupo em 1977, 1980 e 1987. E o álbum de 1973 foi eleito um dos melhores discos da história do Brasil.
Outro emblemático disco de 1973, gravado em Londres, foi “Dark Side of the Moon”, do grupo psicodélico britânico Pink Floyd. O disco sombrio ficaria mais de 700 semanas na lista dos 200 de maior sucesso nos EUA, um recorde histórico. Escorado por músicas como “Money”, “Breathe”, “Time” e “The Great Gig in the Sky”, o álbum com a capa do prisma tornou-se um ícone da cultura pop. O conceito do disco, segundo o baixista, fundador e principal compositor do grupo, Roger Walter, gira em torno do individualismo e de como a sociedade tornou-se opressora. O disco permaneceu por 724 semanas na parada dos EUA, um recorde. Já foram vendidas mais de 30 milhões de cópias do álbum e relançado com materiais extras no 20º e 30º aniversários. Em março desde ano (2007) Walter apresentou-se na praça da Apoteose, Rio e no estádio do Morumbi, SP, tocando todas as canções de “Dark Side of the Moon”.
A importância do Pink Floyd surgiu a partir da utilização de recursos da música concreta (ruídos de portas que se abrem e fecham, de passos de pessoas, de água que escorre, etc) e eletrônico, fundidas com o estilo clássico, baladas inglesas tradicionais, blues e rock. Com ruídos inéditos, o Pink Floyd sugeria uma atmosfera de ficção científica, além de propor uma nova abertura, desde o aparecimento dos Beatles, no saturado universo da música pop. O conjunto é pioneiro no uso de laser, audiovisuais e suportes mecânicos em seus super-produzidos concertos ao vivo.
Ainda no mundo da música Raul Seixas lança seu grito de guerra no Lp “Krig-há, Bandolo” (na verdade, esse grito é dos macacos nos gibis de Tarzan que Seixas era fã), Tom Jobim com o seu “Matita Perê”, Milton Nascimento e o “Milagre dos Peixes”, o maldito Walter Franco e “Ou Não”, Paulinho da Viola com o excelente “Nervos de Aço”, Luiz Melodia e a sua “Pérola Negra”, “Tom Zé com “Todos os Olhos” e Gal Costa com “Índia”.
No cinema os destaques do ano são O Último Tango em Paris, de Bertolucci, Gritos e Sussurros, de Bergman, e Amarcord, de Fellini (1973). Os musicais pop, rescaldo da contracultura, fazem sucesso: Godspell, a Esperança, de David Greene e Jesus Cristo Superstar, de Norman Jewson. No Brasil chega às telas Toda Nudez Será Castigada, de Arnaldo Jabor. A adaptação da peça de Nélson Rodrigues causa escândalo nos cinemas. Tem ainda obras importantes como Uirá, o Índio em Busca de Deus, de Gustavo Dahl, Os Condenados, de Zelito Viana, Sagarana, o Duelo, de Paulo Thiago. O ano marca o auge da produção pornochanchada, gênero que tem uma fórmula baseada em humor, muito sexo e que consegue ampliar o público do cinema - em dez anos, o número de espectadores no país salta de 25 milhões para 60 milhões.
Várias foram as formas de resistência que os autores críticos usaram para se contrapor à política e ideologia do regime e para fazer chegar ao público suas mensagens, driblando a tesoura e o camburão. Entrelinhas, duplos sentidos, trocadilhos, mensagens cifradas: para bom entendedor, meia palavra tinha de bastar. Foram produzidas (e proibidas) várias obras críticas que versavam sobre os problemas sociais, o sufoco e a repressão daqueles tempos. Como exemplo, peça teatral como Um Grito Parado no Ar, de Gianfrancesco Guarnieri (1973).
Lima Duarte incorporou o cangaceiro Zeca Diabo e Paulo Gracindo viveu Odorico Paraguaçu na primeira novela em cores da TV brasileira: O Bem Amado. Nas noites de domingo uma voz anunciava “olhe bem, preste atenção!. Era o Fantástico, da Rede Globo, o programa revista de entretenimento com jornalismo.

Fonte: Blog do Gutemberg 



De presente de aniversário, um exemplar do sucesso do momento:O Último Tango em Paris. A irmã lhe deu de presente e ela vibrou!
Uma festa foi organizada para comemorar os seus trinta e   seis anos...festa em que foi apresentada aos amigos da irmã, frequentadores da Igreja da Glória, onde formavam um Grupo Jovem, idealistas engajados nos ideais de uma sociedade mais justa, com igualdade social e oportunidades para todos. O regime militar os assustava, mas não os calava.Faziam parte da Pastoral da Juventude.

    A  Pastoral da Juventude é a ação dos jovens como Igreja, unidos e organizados a partir dos Grupos de Jovens. É a juventude evangelizando outros jovens em comunhão com toda a Igreja.
A PJ não é apenas uma organização ou uma estrutura como alguns ainda pensam. Na verdade, os grupos de jovens são a base desta pastoral e é no grupo e pelo grupo que a PJ acontece.
Quando o grupo busca aprofundar e viver a fé, atuar na comunidade, descobrir como transformar a realidade e, junto com os demais grupos, ser evangelizador de outros jovens, já está sendo e fazendo Pastoral da Juventude.

E a nossa senhorinha passou a frequentar a Igreja e a comparecer às reuniões, repleta a cabeça de sonhos e de ideais revolucionários.


E com este mesmo grupo de amigos, o cinema Paissandu, com seus filmes de arte...Fellini, Buñuel, Godard eram os reverenciados na época, entre outros...as peças teatrais(merecedoras de um capítulo à parte), e a praia de todos os dias...


Amigos que me lêem, pacientemente,devo parar ou ficarão cansados. Voltarei na próxima semana.
                            Bjssssssss 



 

15 comentários:

Roselia Bezerra disse...

"Paraíso", com os dias vindouros, o abraço familiar, o aconchego dos pais e dos irmãos...envolve, ao sacudir do trote do cavalinho, em organzas e cambraias, a ternura e o delicioso afago do ambiente familiar... vibra, a cada relinchar e o põe a correr, pensamentos céleres a percorrer o seu ser...

Bom dia de paz, querida amiga Senhorinha Leninha!
Cada capítulo das suas reminsicências, mais dá para sentir a intensidade dos seus dias vividos até aqui.
Adoro a Igreja da lória no Rj.
Você fez um belo apanhado de situações no ano em questão... não se esqueceu de nada e mostrou bem a situação do País.
Vou acompanhando com carinho e ânimo... ainda teremos muito, pelo visto.
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

Dalva Rodrigues disse...

Tenho lembranças maravilhosas dos anos 70, principalmente das músicas e criancices...
Que alegria de ler essa explosão de consciência política/social na Senhorinha, tudo está conectado nessa vida.
Adorei este episodio!!
Abração, Leninha!

chica disse...

Que bom aconpoanhar tudo isso e adorei ver o 1973 bem destacado. Nesse ano, nasceu minha TERCEIRA filha...

Adorei lembrar o Paissandu! Lindo te ler! Vamos esperar mais! bjs, chica

Leninha Brandão disse...

Minha querida amiga Rosélia!
Que também os seus dias sejam abençoados!
Muito bom saber que gostou das aventuras da Senhorinha e do seu Paraíso...seu galope me encantava e também o seu jeito de empacar...
Tenho sempre receio de estar escrevendo demais porque certas pessoas não gostam. Quando publiquei pela primeira vez( em 2012) todos gostavam de ler e apreciavam as minhas longas histórias...hoje ninguém tem muita paciência e há os que reclamam.
Gosto de associar a história da senhorinha com os acontecimentos da época, muito rica de fatos históricos.
Obrigada, minha amiga!

Leninha Brandão disse...

Dalva querida,
Também amo as músicas dos anos 70, época muito fértil em acontecimentos musicais. Aliás foi um época abundante em todos os aspectos,infelizmente de muito sofrimento para tantos.
E a nossa senhorinha era jovem e idealista, acompanhava com tristeza as perseguições , as torturas e a tristeza de tantas famílias, algumas muito próximas a ela,
Muito bom saber que você gostou!!!
Um beijo e a minha gratidão por seu carinho!

Leninha Brandão disse...

Amiga querida , Chica do meu coração!

Nesta época a senhorinha já tinha os dois primeiros filhos...o caçula veio mais tarde, dez anos após os irmãos.
O Cine Paissandu foi um marco na vida de nossa amiga... era o point onde se encontravam os intelectuais da época. Os filmes da nouvelle vague, o Cinema Novo explodindo e os europeus de vanguarda reinavam absolutos.
Semana que vem tem mais!!!
Um beijo!!!!

Elvira Carvalho disse...

Um post no qual se relata uma época histórica da vida no Brasil não pode cansar ninguém. Em 1973 estava eu em Luanda e a nível de artes, não era muito diferente.
Abraço e saúde

Leninha Brandão disse...

Querida Elvira
Obrigada por seu carinho e apoio. Fico muito feliz por saber que você gostou, mas não são todas as pessoas que pensam assim. Mas vamos continuar, principalmente por vocês que amam ler! Muito grata, minha querida!

Leninha Brandão disse...

Do meu querido amigo Roberto Cândido
Essa Senhorinha viveu tantas coisas lindas. Ela viveu e absorveu a história do Brasil dos anos 70. Amei! 👏👏👏🥰😘🌹

Anônimo disse...

Ah Dedezinha, que bom encontrar você por aqui e ler esta maravilha dos seus escritos! Que delicadeza como
retrata os anos 70, década de grande importância para as artes principalmente a música. Lendo parecia estar voltando aquele tempo. Não demore a voltar.E pode escrever muito. Amo e sinto como lendo um romance e querendo voltar a ler tudo outra vez.
Marilda Vianna

Leninha Brandão disse...

Ah minha querida Marilda, como é gratificante saber que está gostando das minhas Memórias e que se sentiu nos anos 70, quando estava vivendo a alegria dos seus 15 anos.Sei que ama a música e fico feliz em compartilhar com você.
Muito obrigada por suas palavras de incentivo!
Um beijo carinhoso!!!

manuela barroso disse...

Minha querida Leninha, além dessa época revolucionária, tu eras a própria revolução 😊rsss
Estavas nas tua “ quintas” como se diz por aqui . Ou a fome e vontade de comer.
Não me recordava dessa fase da pastoral, mas a tua avidez de saber sempre mais e estar em todo o lado , faz de ti uma pessoa com perfil de verdadeiro líder .
Mas com essa idade e tantos sonhos , com certeza , já concretizados tinhas que ir mesmo em frente porque parar nunca foi contigo.
Não sabia que o Toninho leva essa diferença de idade com os outros irmãos . Compreende -se que com eles crescidinhos , pudesses ter mais tempo para te dedicares a outros afazeres .
A tua vida é uma linda história com a paisagem de montanhas alegres onde voam as águas para depois repousarem vale da alegria , no descanso do guerreiro .
É sempre uma enorme satisfação ler te e acompanhar o teu percurso
Vou e voltarei no voo dessa águia que me traz sempre de regresso a este ninho tão gostoso!
Um beijinho com ternura 🌷

MeandYou disse...

Oi, Leninha!
Nossa, que boas lembranças você nos trouxe dessa época tão rica em músicas, cinema e artes! Eu curtia tudo isso e estava na flor da idade, meus 20 aninhos redondos. Coisa boa demais!
Pode continuar, queremos relembrar junto contigo desse tempo maravilha.
um grande abraço e apareça lá no meu MeandYou, tem muita coisa bonita pra ver.

Leninha Brandão disse...

Manu muito querida.
Ah, como está Senhorinha gosta de ler as tuas considerações e o teu jeitinho tão particular de ler nas entrelinhas...pareces conhecer a menina dos cachos desde sempre...e ela a ti... mistérios que não sabemos decifrar.
O Toninho é o mais velho e logo depois( um ano e cinco meses precisamente) nasceu o Cacá. Depois, dez anos mais tarde tarde nasceu o Dudu.
E a nossa Senhorinha se viu às voltas com fraldas, mamadeiras e noites mal dormidas novamente.
Hoje, todos adultos, não se nota a diferença.
E vou te esperar sempre nesta 🏠 que é nossa. Serás sempre bem vinda. Obrigada, minha doce e meiga amigairmã Manu!🌹🥀🌹🥀

Leninha Brandão disse...

Bethita querida,
Bom demais receber você aqui! E saber que gostou de mais este capítulo das Memórias de uma Senhorinha. Estou republicando por falta de inspiração para as histórias mais atuais que já estavam bem adiantadas. Mas a pandemia me tirou do eixo, mudou o meu norte e aqui estou recuperando aquele tempo e revendo as boas lembranças.
Fui até o seu blog e adorei tudo por lá. Amo poesia e declamação. Vou virar "freguesa".
Um beijo carinhoso pra você, minha muito linda e querida amiga. Bem vinda!!!!

Minha querida e linda sobrinha Marcela, A vida é uma eterna ciranda a nos conduzir prá lá e pracá... e em uma destas voltas viemos para Tere...

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