SONHOS E ENCANTOS

SONHOS E ENCANTOS

quinta-feira, julho 09, 2020


Memórias de uma senhorinha /Criando os dois filhos




Na época do lançamento do bonequinho Topo Giggio, das lambretas e da juventude transviada, ela, a nossa senhorinha, estava cuidando dos dois filhos...
Sua vida era completa e não imaginava um outro tipo de vida para si.Brincava com os filhos, contava-lhes histórias, cantava para dormirem e ao final do dia, exausta, adormecia. Sabia dos fatos que ocorriam no mundo através do noticiários dos jornais que lia aos domingos, das revistas(O Cruzeiro, Alterosa, Vida Doméstica, Manchete e Cláudia) e de seu pequeno radinho de pilha. Seu mundo estava ali, naquele pequeno paraíso, onde reinava sobre os colonos e suas serviçais...era uma pequena alienada? Não sei dizer se esta sua realidade a deixava à margem dos acontecimentos ou não...sei que se julgava feliz e isto lhe bastava.



Primeiramente, para além de todo julgamento estético, Juventude Transviada é um marco na arte contemporânea. É a primeira vez na história das formas sensíveis de expressão em que existe uma fissura irremediável entre os filhos e seus pais, entre jovens e velhos, de forma que é completamente impossível a um compreender o outro. É possível fazer toda uma história dos desenvolvimentos culturais da segunda metade do século XX baseado apenas nessa fissura: foi ela que deu o rock’n’roll, os movimentos de Maio de 68 na França, a luta contra o Vietnã nos Estados Unidos, toda espécie de organizações de contracultura e, ainda com reflexos hoje, a liberalização dos costumes sexuais e de comportamento. Juventude Transviada, é certo, prefigura muito pouco disso: trata apenas da história de três adolescentes frágeis – mas que são fortes o suficiente para saber que não podem suportar o mundo em que vivem – que tentam, em conjunto, suprir as necessidades um do outro. Necessidades estas – inclusive a necessidade de paternidade – que não poderia ser suprida pelo cuidado ou pelo amor dos próprios pais. Juventude Transviada é o primeiro documento artístico de uma época que problematiza o fim do elo que ligava uma geração a outra, e talvez o primeiro objeto que mereça ser procurado quando tentamos entender o porquê de hoje o "mundo jovem" ter se transformado não só numa idade privilegiada no meio das outras, mas por ser hoje "a" idade propriamente dita, a idade que movimenta a economia através do consumo de música, de cinema, da indústria de fitness, etc.
No entanto, Juventude Transviada não é apenas um documento, mas também um filme que caminha estilisticamente com suas próprias pernas, realizado por um dos poetas mais intensos de sua geração: Nicholas Ray.
Nascido em 1911 mas só tendo começado a fazer cinema depois do término da Segunda Grande Guerra – seu primeiro filme data de 1948 –, Nicholas Ray se torna rápido um diretor com marcas distintivas fortes. É um mundo de heróis frágeis, palpáveis, que tentam sobreviver num mundo cuja chave de decifração eles não detêm. Nesse mundo, a onipresente violência física e mental convive com a possibilidade de uma paixão arrebatadora e irrestrita. Em Cinzas Que Queimam, de 1951, a estrutura básica de Juventude Transviada está montada: um policial citadino, nitidamente afetado pelo desencanto e pelo ambiente em que vive, passa a agredir violentamente os criminosos que persegue. Depois do enésimo caso de violência acima do aceitável, ele é conduzido a uma investigação no campo onde encontrará uma mulher por quem se apaixonará, mesmo que isso implique reconsiderar sua relação com a violência e seu poder auto-destrutivo. O talento e a fluência de Nicholas Ray para filmar essas cenas extremas, tanto os arroubos de violência quanto os delicados momentos da paixão nascente, não fascinou de primeira a crítica americana, mas encantou os então jovens críticos da revista Cahiers du Cinéma, que trataram de classificá-lo como o mais importante cineasta do pós-guerra (Éric Rohmer, em sua crítica de Juventude Transviada, Cahiers nº59). Godard acreditava ser Ray a expressão pura do cinema: "Depois de assistir a Johnny Guitar ou Juventude Transviada, impossível não dizer que trata-se de algo feito exclusivamente pelo cinema, algo que seria inútil no romance, no teatro, mas que na tela grande resulta em algo fantasticamente belo" (Cahiers nº68).
Em Juventude Transviada, Nicholas Ray encontra um ator perfeito para designar todos os estados de espírito com os quais mais gosta de trabalhar: James Dean é ao mesmo tempo um rosto de bebê abandonado pela vida e, inversamente, a possibilidade de uma explosão de violência quando menos se espera. A passagem da faixa etária de seus protagonistas de adultos para adolescentes também ajuda a problematizar melhor alguns problemas dramáticos que sempre estiveram no escopo de Ray. Mal ou bem, os protagonistas mais importantes de Nicholas Ray, de 1949 a 1955, são adultos abandonados, Sterling Hayden, Humphrey Bogart ou Robert Ryan. Juventude Transviada observa a origem desse abandono, o momento que separa seus heróis solitários e trágicos do resto dos "homens de bem", e o motivo: uma sensibilidade diferente, uma dificuldade em aceitar o ritmo e os jogos dessa sociedade, uma instabilidade quase química que impede a vida sedentária e assentada da idade adulta.
Outro aspecto decisivo no estilo de Nicholas Ray é a força suprema que os ambientes exercem nas cenas. Numa cinematografia como a americana, acostumada com um estilo de cenografia neutro e uma direção de arte naturalista (Wyler, Huston), Ray explode toda a verossimilhança dos lugares e das vestimentas servindo-se deles mais para conotar a situação dos personagens do que para mostrar semelhança com o mundo real. As locações são evocativas e não saem da cabeça fácil: a neve e a casa solitária em Cinzas Que Queimam, a casa de Joan Crawford em Johnny Guitar, a mansão para onde os três heróis de Juventude Transviada fogem. Em Johnny Guitar e Juventude Transviada, ainda se acrescenta outra camada expressiva: a cor. Cineasta famoso por trabalhar com baixos orçamentos, Nicholas Ray pôde em seu melhor período filmar poucos filmes em cor. E seu uso é primoroso: cores aberrantes que rimam com os estados de espírito de seus personagens, seja as tonalidades da face de Joan Crawford (ainda e sempre Johnny Guitar) ou a jaqueta vermelha de James Dean nesse Juventude Transviada. Nicholas Ray nunca primou pelos meios termos em seus filmes. Sorte nossa: sentimos a emoção por inteiro.
Ruy Gardnier

(sobre o mal existir em cada um)
"Acredito que isso vem do sentimento segundo o qual nenhum ser humano, homem ou mulher, é sempre bom ou mal. O essencial em toda representação da vida é que o espectador, quando assiste, tenha o sentimento de que, nas mesmas circunstâncias, faria a mesma coisa que o personagem faz se estivesse na pele dele, sejam esses atos bons ou maus. As fraquezas do personagem devem ser humanas, pois se elas o são, os espectadores podem reconhecer nelas suas próprias fraquezas"

( sobre a violência de seus personagens)
"Existe violência em todos os meus personagens. Em todos nós, ela existe em potência. (...) É por isso que eu prefiro os não-conformistas: o não-conformista é muito mais sadio do que aquele que por toda sua vida regula seu cotidiano, pois é aquele mais apto, no momento menos previsível, a explodir e matar o primeiro que aparecer"

(Nicholas Ray, entrevista concedida a Charles Bitsch, Cahiers du Cinéma 89, novembro de 1958.
Sinopse: Como seu filho Jimmy acaba arranjando confusão em todos os colégios em que é matriculado, os Stark vivem mudando de cidade em cidade para livrar o filho das más influências. Mas, recém-chegado à nova cidade, Jimmy já é levado para a delegacia por bebedeira e vadiagem. Lá ele conhece Judy, uma adolescente que não consegue mais conviver pacificamente com seu pai. A empatia entre os dois jovens é mútua. No dia seguinte, na escola, Jimmy desperta ciúmes em Buzz, namorado de Judy, e é chamado para resolver a rivalidade num racha de carros que acaba tendo um desenlace fatal. Assustados, Jimmy e Judy escondem-se com o menino Plato numa mansão abandonada, onde tentarão conviver como uma família, na ausência de outra.

Direção: Nicholas Ray Roteiro: Stewart Stern, Irving Shulman, com argumento de Nicholas Ray Fotografia: Ernest Haller Montagem: William Ziegler Música: Leonard Rosenman Produção: David Weisbart Elenco: James Dean (Jimmy Stark), Natalie Wood (Judy), Sal Mineo (Plato), Jim Backus (pai de Jim), Ann Doran (mãe de Jim), William Hopper (pai de Judy), Rochelle Hudson (mãe de Judy), Corey Allen (Buzz), Dennis Hopper (Goon), Nick Adams (Moose).

Fonte: contracampo. com. br
 Ver este filme a fez enxergar uma nova realidade: nem tudo era cor de rosa no mundo... suas heroínas dos livros de M.Delly eram completamente diferentes das heroínas da vida real. Havia um novo tempo começando a surgir e nele a sua Noviça Rebelde era uma rebelde sem causa...

Nos anos 50 foi lançado o primeiro carro da Volkswagen, com peças inteiramente produzidas no Brasil.E, enquanto nossa amiguinha cuidava da educação dos filhos, a irmã mais nova aprendia a dirigir,tirava a Carteira de habilitação e comprava o seu primeiro carro, um "fusquinha" azul. Tudo é uma questão de escolhas, de prioridades, mas não posso negar a frustração, a quase inveja mesmo de uma pessoa que sempre fora a mais "atirada", ao ver a irmãzinha sempre tímida e acanhada, a dirigir o seu próprio carro.




E, nas férias de dezembro o grande sonho de sua irmã se realizando: a formatura na Faculdade Santa Úrsula em Letras Anglo Germânicas. Foi uma enorme alegria para toda a família!

E foi nesta ocasião que a nossa senhorinha resolveu dar um novo passo em sua vida: fazer o concurso para o Estado... seria professora de fato e não apenas no Diploma pendurado na parede. Uma dificuldade em família tão abastada! Um problema de difícil solução. Só contava com o sogro a apoiá-la, ele que acreditava no trabalho como fonte de realização para todas as pessoas, independentemente do sexo... mas todos, sem exceção, argumentavam a favor do marido que achava o cúmulo do absurdo uma pessoa de sua "estirpe" se lançar ao trabalho... e à estrada também, pois os Grupos Escolares funcionavam na cidade. Mas depois de uma batalha verbal de vários dias, finalmente chegou o tão esperado dia do concurso e lá foi ela até a cidade de Leopoldina, onde o mesmo seria realizado. Não entrarei em detalhes sobre isto, apenas direi que após alguns dias o resultado chegou, a escola era o Grupo Escolar Desembargador Alberto Luz e chegou, finalmente, o tão esperado dia: a sua posse no cargo de professora.
O sogro lhe deu de presente uma charrete e um cavalo, o Paraíso... ironia do destino... era um lindo cavalo branco que empacava e não correspondia em nada ao nome.
E esta era a praça por onde passaria todos os dias para chegar à Escola.







Bem amigos, eu estou indo... voltarei na próxima semana, se Deus quiser. 
Bjsssssssss

11 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Boa noite de muita paz interior, querida amiga Leninha!
Como me lembro do Topo Gigio... eles adoravam... e nós, mães, ficávamos alegres com o que eles gostavam...
Quanto ao fusca, eu ainda gosto muito e foi meu primeiro carrinho... 71...
Uiversidade Santa Úrsula me diz muito ao coração, foi na de Botafogo que me formei, amiga.
Adoro praças do interior, um lugar onde respira-se a paz e o aconchego da natureza que nos acolhe com carinho.
O que acrescenta aqui no post para enriquecê-lo, é bem interessante e recapitula fatos históricos e curiosos num capitulo de um belo livro que, na certa, irá publicar, amiga.
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

Leninha Brandão disse...

Muito querida amiga Rosélia,
Foi uma época de transição aquela na qual a nossa Senhorinha criou os seus filhos...o homem era o senhor absoluto e dizia sempre a última palavra. Porém as revistas e outras publicações, mostravam uma nova realidade diferente daquela vivida por nossas mães. E também os filmes traziam uma mensagem totalmente nova, de liberdade de pensamento e luta contra as algemas que travavam até mesmo os anseios mais dignos, como o desejo de trabalhar, de ser útil exercendo uma profissão.
Obrigada por seu carinho, minha querida amiga!

Elvira Carvalho disse...

São as memórias felizes que nos dão força para enfrentar o dia a dia, quando os anos nos vergam os ombros.
Abraço, saúde e bom fim de semana

chica disse...

Leninha, adorei relembrar o Topo Gigio que era bem divertido assistir. Tinha o bonequinho dele também. E gostei de ver mais esse capitulo,até do cavalo PARAISO, mas um empacador,rs...Lindo fds! beijos, chica

" R y k @ r d o " disse...

Quem não gostava do topo Gigio?
Gostei de ler embora achasse o texto muito comprido. ( desculpe a minha sinceridade)
.
Abraço

Leninha Brandão disse...

Amiga Elvira,
E são estas memórias que preenchem os meus dias de quarentena e me levam a acreditar que tudo vai passar...da mesma forma que passaram os alegres dias da juventude.
Obrigada, minha querida! É bom ver você aqui!!!

Leninha Brandão disse...

Querida amiga Chica,
O Topo Giggio era uma alegria na vida dos meus filhos em uma época em que as crianças não alimentavam sonhos irrealizáveis em matéria de brinquedos...eram felizes com o que possuíam.
E o Paraíso era um cavalo sui generis, com vontade própria...rsrsrs.
Agradeço as suas palavras carinhosas sempre!
um beijo e um abraço!!!

Leninha Brandão disse...

R y k @ ardo,
Também achei o texto longo...mas precisava falar sobre a influência dos filmes da vida da nossa Senhorinha.
Um abraço

Dalva Rodrigues disse...

Leninha, adorei o texto sobre Juventude transviada, visão do momento, contexto, perfeito para o entendimento. Tentarei assistir novamente, faz muiiito tempo o vi.
A senhorinha se tornando uma progressiva para seus tempos, adorei!
Fico imaginando a cena dela chegando na escola em sua charrete e cavalo simpático! Agora, estará do outro lado do ensino.
Abração querida, Leninha!

Leninha Brandão disse...

Muito querida amiga Dalva,
Muita gratidão pelo seu carinho, pelo seu incentivo e por sua presença em meu cantinho. Também quero rever o filme que marcou tanto a minha vida naquela época.
Um beijo carinhoso pra você.

manuela barroso disse...

Eis que chegou o momento na história da nossa senhorinha que nunca esqueci: a famosa charrette e o Paraíso teimoso.
Tempos conturbados esses em que vemos retratados nos filmes as angústias e desencontros dos mais jovens que inconformados com e evolução própria da vida , é que são espelho também deles próprios .
Grande garra a tua , minha querida Leninha, que podendo estar a sombra da bananeira , visitando os recantos da fazenda , não desististe de partir rumo ao teu destino de formar outros seres que te esperavam e a quem tanta felicidade e carinho transmitiste
Foi por isso é muitas coisas mais , que nunca te esqueci desde os primeiros tempos de blog .
Te admiro demais , por isso o meu ternurento abraço 🌷

Minha querida e linda sobrinha Marcela, A vida é uma eterna ciranda a nos conduzir prá lá e pracá... e em uma destas voltas viemos para Tere...

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