Memórias de uma senhorinha
Inverno se aproximando e as férias tão esperadas também. Nuvens
corriam como flocos de algodão (doce?) pertinho de sua janela. Os pensamentos
também corriam e a proximidade da chegada da mãe, dos irmãos e dos filhos se
afigurava um tanto tenebrosa pela reação que temia. Acostumados às temperaturas
amenas do inverno em Muriaé e no Rio de Janeiro, como reagiriam àquele frio e
àquelas “simpáticas” Nuvenzinhas. Ela achava lindo acordar pela manhã e avistar
o céu quase ao alcance de sua mão...era uma Pollyana, lembram-se? E o “jogo do
contente” sua distração preferida.
Providências foram
tomadas para amenizar um pouco o frio... mantas , cobertores e edredons
enfeitavam lindamente as camas e o improvisado sofá da sala. ( Dois estrados
cujos colchões estavam revestidos de um macio veludo de algodão e muitas
almofadas). Cores fortes e quentes coloriam as camas e traziam um pouco de sol
para dentro de casa, iluminando os ambientes.
.Nas paredes , colchas à guisa de panôs davam um toque alegre e um tanto hippie à decoração.
Mister se fazia providenciar casacos (mantôs ou manteaux como se dizia antigamente) para ela e para a Drinha...recorreram à secretária que lhes indicou o seu alfaiate e uma loja em São João Del Rei onde encontrariam lãs da melhor qualidade. E para lá se dirigiram alegremente em busca de uma lã macia e aconchegante . Em lá chegando se deslumbraram com a variedade e com a qualidade dos tecidos.Uma boa escolha foi feita...lãs de padronagens semelhantes porém cores diferentes...verde para a Drinha e marrom para nossa senhorinha.No dia seguinte levariam para o Sr Alfaiate, muito bem recomendado por todos , inclusive pelos vendedores da loja.Uma surpresa as aguardava: o ar solene do profissional. No momento em que começou a "tirar as medidas", um susto...ele caiu de joelhos aos seus pés para medir o comprimento do casaco de nossa senhorinha que o queria um pouco abaixo dos joelhos. Mas concordaram que deveria mesmo ser um "expert" no assunto uma vez que tão inusitado procedimento nunca haviam presenciado.
No dia aprazado foram experimentar os casacos e que decepção!!! As mangas haviam ficado curtas e as cavas muito apertadas, o que as colocava em uma verdadeira "camisa de força", limitando-lhes os movimentos e sem o menor espaço para ampliar a costura. E o Sr alfaiate ali , vangloriando-se de sua obra prima. Nada lhes restava a não ser pagar o valor combinado e levar para casa o sonho destruído. Um dia, muitos anos depois, haveriam de rir desta situação, porém no dia não havia nada cômico no acontecido.
..................................................................................
Vamos deixar nossas amiguinhas a chorar as suas pitangas e dar um tempo para assimilarem a sua mágoa.
Estou indo.Mas voltarei, com certeza!!!
Leninha Brandão
8 comentários:
Lendo suas doces memórias, me remeto ao passado como se estivesse vivendo neste cenário tão poético. Aguardo , ansiosa , a próxima história, que, certamente será surpreendente como as demais.É sempre um prazer inenarrável ler seus tão belos escritos.
Amo o que você escreve.
Um beijo,
Marilda
Muito obrigada, minha querida Marilda , pelo seu carinho e dedicação à minha história...é sempre bom ver alguém se identificando com nossas histórias.Escrevo sempre com muito respeito ao meu leitor(a) e retrato apenas o acontecido...não é ficção, é o que realmente aconteceu.
Um beijo carinhoso.
Querida Leninha
O seu estilo narrativo continua inconfundível! Dá gosto ler as suas Crónicas e...voltar a ler. Acontecimentos vividos e nunca esquecidos...nem mesmo pelos seus seguidores.
Obrigada por partilhar retalhos da sua vida.
Muitos beijinhos
Beatriz
Como é nostálgico para mim essa conversa de costuras, lembro até hoje da voz de dona Maria, costureira de minha rua na infância...Ficávamos ansiosos para o dia chegar e buscarmos a peça que geralmente não estava pronta...e depois, sempre havia os ajustes. Casacos, calças boca de sino...Viajei com sua postagem, Leninha, querida!
Beatriz muito querida , meu agradecimento e minha imensa alegria por sua visita e por ter tocado o seu coração! Um beijo carinhoso!
Minha doce amiga Dalva!!!
Em minha recordação tenho também uma muito querida costureira que executava com maestria as minhas roupas de festa.Dos treze aos dezenove anos,que foi quando me casei, só ela fazia os meus trajes, desde o uniforme do Colégio Santa Marcelina até o meu vestido de noiva, uma verdadeira obra de arte.
Que bom saber que despertei estas doces recordações em sua mente!
Muito obrigada, minha querida!!!
E fizeste com que o meu sorriso se abrisse de novo ( já o esquecera...) aquando das medidas e da turbulência causada pelo alfaiate, Leninha! claro que também recuei no tempo para recordar a minha modista que me fazia um vestido quase de quinze em quinze dias...Queria lá saber se estava bem arrematado! Tinha pressa de estriar um vestido novo e pronto! E era para não faltar à promessa de entregar no dia...Mas eu gosto mesmo, é de recriar a história em que me inseres e viajar contigo por esses caminhos, sentir contigo a tua família linda chegar, sentir contigo a tua alegria... E ao acordar, saber que estás hoje aqui mesmo connosco a celebrar! Obrigada, minha doce Leninha, por voltares!
Beijooo!
Minha doce e meiga Manu,
Perdão pela demora em responder-te...viagens me tomaram o tempo e me roubaram de minha "casa"...só não roubaram o pensamento em ti.Estiveste comigo durante a viagem, como sempre , em meu coração e em minha mente.
Bom saber que consegui arrancar de ti um sorriso,neste tão difícil período que atravessas...mas que vai passar, como tudo passa nesta nossa curta passagem por este planeta... nosso destino é bem maior, não é mesmo?
Um beijo e um afago, minha amigairmã.
Postar um comentário