MEMÓRIAS DE UMA SENHORINHA
O ENCANTO NOSSO DE CADA DIA!
Ainda bem que o tempo passa! Já imaginou o desespero que tomaria conta de nós se tivéssemos que suportar uma segunda feira eterna?
A beleza de cada dia só existe porque não é duradoura. Tudo o que é belo não pode ser aprisionado, porque aprisionar a beleza é uma forma de desintegrar a sua essência.
" Dizem que havia uma menina que se maravilhava todas as manhãs com a presença de um pássaro encantado. Ele pousava em sua janela e a presenteava com um canto que não durava mais que cinco minutos. A beleza era tão intensa que o canto a alimentava pelo resto do dia. Certa vez, ela resolveu armar uma armadilha para o pássaro encantado. Quando ele chegou, ela o capturou e o deixou preso na gaiola para que pudesse ouvir por mais tempo o seu canto.
O grande problema é que a gaiola o entristeceu, e triste, deixou de cantar.
Foi então que a menina descobriu que, o canto do pássaro só existia, porque ele era livre. O encanto estava justamente no fato de não o possuir. Livre, ele conseguia derramar na janela do quarto, a parcela de encanto que seria necessário, para que a menina pudesse suportar a vida. O encanto alivia a existência... Aprisionado, ela o possuia, mas não recebia dele o que ela considerava ser a sua maior riqueza: o canto!
Fico pensando que nem sempre sabemos recolher só encanto... Por vezes, insistimos em capturar o encantador, e então o matamos de tristeza.
Amar talvez seja isso: Ficar ao lado, mas sem possuir. Viver também.
Pe.Fábio de Melo
Por enquanto, nossa senhorinha está cantando, livre e solta... faz suas descobertas e se encanta com o encanto de cada dia... um sonho ela vive e se apropria dos momentos e de cada minuto, saboreando alegrias como frutas maduras e suculentas, urdindo belezas como se um tear mágico possuisse, espreguiçando flores e dormindo luares...
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E ela ia de espanto em espanto... e se maravilhava... o quarto dos sogros, também finamente decorado, com uma bela mobília de cedro e desta se destacando o enorme guarda roupa com três belíssimos espelhos em bisoté, francês legítimo...
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Parecido com este da foto, apenas mais claro, era um imponente armário e dominava o ambiente.
O banheiro era uma verdadeira sala de banhos, com uma banheira antiga, de louça, torneiras redondas e decoradas, um primor.
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Continuando a percorrer a casa, com os olhos de nossa senhorinha, vamos encontrar mais quatro quartos: um ao lado da sala de estar, com uma cama patente de solteiro e outro ao lado deste (antiga sala íntima da sogra, onde ficavam o seu piano e um jogo de cadeiras de palhinha com um fino trabalho de marchetaria*) ocupado por uma cama de casal,também patente... não sei se todos conhecem as camas patentes, mas na época eram muito usadas.
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*Esta mobília da sogra foi levada para Muriaé,para a casa da cidade... os "coronéis" gostavam de ter uma casa na cidade e outra na roça... a sogra habitou a casa da fazenda por pouco tempo. De saúde delicada, diabética, temia ficar tão longe da cidade e da família paterna. (as estradas não eram asfaltadas e quando chovia ficavam intransitáveis)
Voltando à sala íntima... com a mudança da sogra para a cidade o que era sala passou a ser quarto de hóspedes e por este motivo uma cama patente de casal foi ali colocada.
Mais dois quartos possuía a casa, com portas para a sala de jantar: o primeiro, com duas camas de solteiro e o segundo com um divã e uma geladeira, à gás de querosene. Não poderia ser elétrica, pois a luz da fazenda era desligada todos os dias por ser de corrente alternada. E o sogro todas as noites gritava para o fiel colono que morava ao lado da serraria:
"-Otávio, limpa a grade!!!" e logo depois:" -Otávio, liga a luz!!!
E com a luz ligava-se o rádio e a casa se enchia de música... e os colonos mais chegados vinham para a casa da fazenda afim de jogar o "Truco"e gritavam, fazendo uma enorme algazarra e nossa menina se divertia com isto... não havia televisão e a diversão era esta.
A cidade de Miradouro era também o seu motivo de diversão, com suas "vendas "antigas, balcões de madeira e uma infinidade de artigos em um mesmo estabelecimento comercial... tecidos, panelas, brinquedos, cadernos e uma pessoa só, para atender aos fregueses.
E as padarias, com suas caçarolas italianas(a de Dona Adelina, do sêo Brás, era a mais famosa, uma maravilha de se comer de joelhos). Os pães, deliciosos, de milho, sovado, italiano e vários outros, todos "de verdade", farinha pura sem os aditivos que hoje se colocam.
A Praça Sta Rita, como de Sta Rita era também a linda Igreja, no alto , abençoando a cidade... cidade que mais parecia um presépio, linda e pequenina, com seus moradores simpáticos e que a acolheram com o seu carinho e sua hospitalidade.
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"A mesma praça,o mesmo banco, as mesmas flores e o mesmo jardim..."
À tardinha,as pessoas ali se reuniam e era como que uma revoada... as crianças brincando e os adultos proseando como se o tempo houvesse parado... os beija flores e as borboletas em torno das flores, o sino da Igreja tocando as Ave Marias, uma vida de sonho ou um sonho de vida?
Vamos deixar a nossa senhorinha na praça, usufruindo de uma beleza que parecia ser eterna e uma pausa faremos...
Semana que vem estaremos aqui.
Bjsssssssss