Lá, distante que nem sei
A tarde cai, vem a noite e vamos encontrar a nossa senhorinha, única pessoa acordada na casa e, talvez, em toda a cidade. Sentada em uma romântica poltroninha, tem a cabeça fervilhante de pensamentos...
Nossa senhorinha devaneia e em seus sonhos imagina uma aldeia que possa servir de abrigo para uma jovem baronesa imersa em seus problemas e disposta a procurar uma nova vida.
Em um Atlas antigo e surrado encontra um paraíso , ideal e atraente, totalmente diverso da fazenda onde vivia a nossa heroína. O nome "ESTORÃOS", não lhe é muito atraente, porém as fotos mostram uma aldeia bucólica e afastada da civilização.
Estorãos é uma pequena aldeia minhota situada a cerca de seis quilómetros de Ponte de Lima onde corre a ribeira que lhe dá o nome. As águas vindas do alto da serra de Arga serpenteiam no meio de pinheiros, vinhas e campos estrumados criando pequenos lagos e represas onde trutas e lampreias se escondem de turistas e pescadores.
Por Joseolgon - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4197708
A paisagem é magnífica. O recorte azulado e sombrio da serra contrasta com o verde dos campos e as cores outonais das vinhas e searas criando verdadeiros jardins que pedem muitos passeios e descobertas rústicas. De cada lado da ribeira várias casas de granito e outras mais modernas formam uma pequena aldeia ligada por uma velha ponte românica. Do lado direito da ponte, um moinho de pedra com a roda de madeira intacta parece uma sentinela nas águas calmas próprias dos dias em que não chove.................................................................................................................................................................
Foi esta aldeia a escolhida por uma baronesa ávida por um local longínquo que a afastasse da realidade caótica vivenciada por ela neste momento. Era prudente que se afastasse, mas apesar do dito na carta, não cogitava em momento algum, de um rompimento definitivo. Mister se fazia, entretanto , não alimentar ilusões em seu amado.
Mas voltemos à nossa senhorinha. Sua rotina não podia parar e nem ela entregar-se à devaneios em todos os seus momentos. Planos de aula a aguardavam, alunos sedentos de histórias, de novas expedições às matas vizinhas...mágicos lápis de cor, fechados em suas caixas, deveriam ser descobertos e utilizados, músicas precisariam ecoar naquela sala, com novos ritmos a serem pesquisados...e a leitura de sons diversos além das vogais cantadas por eles com entusiástico fervor:
Somos cinco amiguinhos
que se querem muito bem,
cada qual fala sozinho
não precisa de ninguém
Aa Ee Ii Oo Uu !!!!!!!!
assim como as notas musicais em uma melodia do filme
"A Noviça Rebelde"
Dó é pena de alguém
Ré é sempre para trás
Mi,pronome que não tem
Fá que falta que me faz
Sol, o nosso astro Rei
Si, de sino e de sinal
e afinal voltei ao Dó
Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si Dó
E os alunos vibravam ao cantar e as outras crianças da escola gostariam de estar naquela " Classe Especial"...
E a cada dia, uma vitória...e a cada vitória a felicidade refletida naqueles olhinhos de crianças ,antes tão discriminadas e que, hoje ,se sentiam valorizadas e queridas.E uma professora radiante de alegria com estas vitórias e estes resultados.