Uma cidade rodeada de montanhas,com bucólicas estradinhas de chão a nos remeter para outros tempos,outros dias...
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E eram outros os tempos nos quais a nossa senhorinha se iniciava na vida campestre.
Todas as manhãs a visita ao curral para ver a ordenha e beber o leite fresquinho...mais tarde ir até a casa dos colonos,de camionete com o sogro e o marido,em busca do produto da colheita:milho,feijão ou café.E almoçavam lá mesmo,aquela comidinha gostosa,feita no fogão à lenha e era um desfilar de iguarias às quais ela não estava habituada,mas que passou a apreciar:canjiquinha com costelinha de porco,frissura de porco com angu(o angu era completamente diferente daquele ao qual estava acostumada,era feito com fubá moído lá mesmo,em moinho de pedra e o sabor era muito melhor)cabrito ensopado,ora pro nobis,frango ao molho pardo e tantas outras comidinhas tipicamente da roça.Até o arroz era diferente,socado no pilão e com um sabor e uma cor totalmente diferentes.
E as sobremesas...um capítulo à parte,doce de mamão verdinho,doce de laranja,de abóbora com coco,de figo e arroz doce...ficavam em latas de óleo enormes,com tampa de madeira.Uma orgia gastronômica!
E as pessoas,tão cordiais,tão hospitaleiras,com uma meiguice,uma ternura,um querer bem espontâneo e simples,um se entregar à amizade com singeleza e graça,que a comoviam e mexiam com suas emoções.
E na volta para casa,a amizade da sogra e do sogro que a tratavam como se filha deles fosse aquela menina de sentimentos transparentes e alegria contagiante.
O sogro e a sogra |
E a sisudez de ambos se derretia diante daquele sorriso que habitava aquele rosto permanentemente. E ela gostava deles,retribuia aquele afeto com toda a ternura de um coração ainda de criança.Seus repentes divertiam os dois...sua paixão pela música que a fazia andar de baixo para cima com uma eletrolinha à pilha que era o seu xodó,ouvindo suas trilhas sonoras de filmes,sua mania de subir os pastos cantando,suas caminhadas pelas "românticas"estradinhas,o seu modo de tratar os colonos e as empregadas da casa.Neste ponto a sogra não concordava muito,a intimidade com a cozinheira que a chamava pelo nome,com a simplicidade e ingenuidade próprias das pessoas simples a incomodava e ela ensinava que não poderia haver esta liberdade,teriam que chamá-la por Dona Leninha.
Outro ponto com o qual não concordava era que ajudasse na arrumação da casa, no colocar a mesa e,principalmente em encerar a sala de estar e o quarto.Era por ela considerado algo inaceitável,uma dona de casa conversar com os empregados...isto era norma da época e das famílias dos coronéis.Conversar, somente sobre trabalho.
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Os sogros passeavam muito,gostavam de ir à Araxá e na casa havia várias fotos destas viagens.Uma delas mostrava a cunhada, o sogro,a sogra e o filho,seu futuro marido,antes do casamento.
Em outra, o cunhado,o sogro e o marido todos muito sérios e
compenetrados...
E no meio desta seriedade toda,a alegria de uma pessoa jovem de idade e de espírito,foi como uma chuva de verão,um sol de primavera,a iluminar aqueles semblantes e aquelas almas.O sogro era um homem bom,trazia no coração uma luz e na mente uma lembrança de uma história familiar bonita,que ele gostava de relembrar.E tinham longas conversas sobre a sua infância em uma fazenda perto de Viçosa,os seus estudos no Colégio Andrés,onde uma educação primorosa o preparou para a vida,enquanto que a perda do pai,ainda jovem o fortaleceu e deu ânimo para educar as irmãs em um Colégio de freiras em Ponte Nova.E nossa amiguinha se deliciava com estas confidências que aquele homem, em menino transformado,lhe fazia na varanda da casa,enquanto a lua lhes fazia companhia.Conheceu a esposa em uma das suas viagens com os seus tropeiros pelas bandas de Muriaé.E dela se apaixonou,e com seu cavalo passava defronte à sua casa,cumprimentando-a com um elegante gesto de chapéu,todos os dias.Um dia pediu para entrar e a família o recebeu com um certo desagrado...eram todos advogados e um fazendeiro não estava em seus planos para a primôgenita.O pai da sua amada era um famoso tabelião e não se entusiasmou com o futuro genro,mas a filha já estava apaixonada e nada pode fazer...aceitou o pedido de casamento e em alguns meses,ela preparou o enxoval.O casamento foi um acontecimento memorável,com a noiva em uma carruagem enfeitada por rosas seguindo por baixo de arcos de flores do campo,até a entrada da Igreja. Vou deixá-los,a imaginar um belo cortejo,com damas e pajens e toda a pompa e circunstância... voltarei na próxima semana,se Deus quiser.