SONHOS E ENCANTOS

SONHOS E ENCANTOS

sábado, agosto 19, 2017

Memórias de uma senhorinha

Imagem da Net

"Sempre tive pés falhos. Pés que falharam na vontade de prosseguir. Na ânsia de deixar pra trás. Que falharam na curiosidade de descobrir o que havia pela frente.
Sempre tive pés medrosos. Como será o solo ainda desconhecido? Movediço? Árido? Cheio de espinhos? Medos famintos que engoliram a necessidade de andar para frente.
Sempre tive pés tortos. Sempre pisei nas suas extremidades. Nunca de pé cheio. Talvez pelas incertezas da caminhada. Ou talvez porque viver é caminhar torto mesmo: cambaleando nas pernas, procurando por algo em que se apoiar.
Sempre tive pés que minavam meus movimentos. Que me deixavam parado, à espera do que nunca veio. Do que nunca viria.
Mas sempre abriguei, adormecida em algum lugar entre o joelho e o calcanhar, uma gota de coragem suficiente para dar ao meu pé a força para o próximo passo. Com pé direito. Em solo fértil. Ao encontro da flor que me recebeu com um sorriso. Que me fez desabrochar.“
(João Célio Caneschi)

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E as palavras do poeta martelavam em sua cabeça enquanto o carro engolia a distância que os separava da resposta tão esperada.
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A viagem até Barbacena transcorreu no mais profundo silêncio...pensamentos se multiplicavam na cabeça de nossa senhorinha e ela, sempre tão falante, emudeceu e levou os demais ao mesmo respeitoso silêncio. Só se ouviam os ruídos dos pneus , inicialmente sobre a terra e depois sobre o asfalto, após passarem por Barroso. Em direção à Barbacena a estrada era movimentada, com caminhões transportando cimento , o que impedia o livre fluxo dos carros...muitas curvas impediam a ultrapassagem e era uma viagem cansativa e entediante, principalmente quando se ansiava pela chegada.


E nossa amiguinha meditava, alheia ao movimento e à chuvinha fina que molhava a pista e dificultava a visão. Sempre alimentara a esperança de um dia morar em um lugar “para sempre”... Resende Costa se afigurara este local e já se via velhinha, visitando o asilo, convivendo com a amiga Tininha e sentindo o tempo escorregando preguiçosamente por entre os seus dedos... seus pés percorreriam as mesmas ruas e ladeiras, seu olhar se demoraria nas longínquas montanhas e suas mãos criariam rugas enquanto deslizassem sobre a trama daquelas colchas coloridas. 
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Enfim chegaram à Barbacena, cidade que exercia sobre ela um encanto inexplicável... suas casas coloniais, a tradição das antigas famílias, o belo Jardim do Globo, a imponente residencia dos Andradas ( O solar de tantas histórias), a Estação da Central do Brasil, a Matriz de Nossa Sra da Piedade...enfim, aquele ar de "antigamente" que ela tanto apreciava e parecia fazer parte de "outras vidas"...











Era necessário procurar o endereço do proprietário da residência e deixar os devaneios...
Informaram-se e para lá se dirigiram. Era uma papelaria muito simpática no Beco Treze de Maio.Foram atendidos por uma senhora de agradável fisionomia que logo solicitou a presença do Sr. Mourão, também  solícito e agradável. Inicialmente não demonstrou o mínimo interesse em alugar a casa, construída para o filho e que lhe trazia tristes lembranças... bastou-lhe porém escutar os motivos de nossa senhorinha e seus convincentes argumentos, para que mudasse de ideia. Combinaram os detalhes , assinaram o contrato e pronto!!! , estava feito, já eram as inquilinas do simpático senhor. Agora era voltar à Dores de Campos e conhecer a nova residência.E agradecer ao Eterno... e ao jovem rapaz que havia dado as informações.
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E vamos deixar para a próxima conversa a visita à casa tão desejada.

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Eu vou, mas voltarei... aguardem!


Leninha Brandão

11 comentários:

Mrilda Vianna disse...


Suas memorias são verdadeiros sonhos e encantos. Fico encantada quando leio seu causos. Lindas histórias vividas!!!! Bjss

Leninha Brandão disse...

Obrigada, minha querida! Suas palavras são um incentivo para que eu continue escrevendo!
Um beijo carinhoso!!!

Anônimo disse...

Voltei no tempo, Estive em Barbacena e amei aquela linda cidade, lindas memórias da senhorinha. Muito bom seu conto!
Feliz e abençoado domingo!

Bjs!

Leninha Brandão disse...

Muito grata pela visita e pelas amáveis palavras! Volte sempre!!!
Um beijo.

chica disse...

Um prazer te acompanhar nessas memórias tão bem contadas! Lindo! bjs, chica e ótima semana!

Lúcia Soares disse...

Deixou-me curiosa, Leninha. Claro que vou acompanhar sua história.
Beijo e boa semana.

Maria Izabel Viegas disse...

Leninha,

..."abriguei, adormecida em algum lugar entre o joelho e o calcanhar, uma gota de coragem suficiente para dar ao meu pé a força para o próximo passo."
Encantada, senhorinha, pois seu texto todo expressa essa coragem - a de ir caminhando até hoje para encontrar seu paraíso acolhedor e pleno de reminicencias.
E me pergunto: Existe? Realmente você para lá irá?
Também como a Lúcia, estou curiosa.
Apesar de saber que onde você estiver -- criará esse deslumbramento pois essa senhorinha ainda tem muito a nos contar, novos lugares.
Todos vistos pelo belo foco do seu olhar.
Beijos, minha querida!
* ah... aqui me deliciando pois eu sempre tive pés de pisar em poças d´água. Até hoje. Estou me analisando( acho que sei) rs
E essa coragem na dita panturrilha!

BLOGZOOM disse...



Leninha,

Não conheço Barbacena, mas foi palco de um Carnaval que levou um ex-namorado a pular um muro e sem volta! rsss


Bjs

SOL da Esteva disse...

Tesouros de Memórias duma sensibilidade marcante.
Gostei de "olhar" Barbacena.


Beijo
SOL

Dalva Rodrigues disse...

Oi Leninha! Que crônica mais linda essa usada na abertura do post...amei!!
A vida é um emaranhado de linhas e de repente alguém desata um nó de cá ou de lá...o futuro dirá se foi bom ou não. E vamos seguindo para saber os novos rumos!
Beijos!

Beatriz Bragança disse...

Querida Leninha
Como apreciei essa citação de João Célio!
E depois, a sua narrativa! Senti que saltava dentro do carro, de acordo com o piso.Julgo que ainda não havia cinto de segurança...
Obrigada por essa viagem.
Lindas fotos!
Um beijinho
Beatriz

Minha querida e linda sobrinha Marcela, A vida é uma eterna ciranda a nos conduzir prá lá e pracá... e em uma destas voltas viemos para Tere...

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