SONHOS E ENCANTOS

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quarta-feira, junho 13, 2012

Homenagem ao Poeta


124 anos!

Interrompendo as Memórias de Menina para uma homenagem ao Poeta Fernando Pessoa...
Fernando Pessoa
13 de junho de 1888 / 13 de junho de 2012
Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar pela vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui – ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
A que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui…
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas – doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado –,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!…
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!…
{Álvaro de Campos, Poemas}

5 comentários:

Mery disse...

Um poeta português que nos encantou com suas poesias tão simples e belas, coisinhas do dia a dia em versos lindos...Quanta sensibilidade: "No tempo que festejavam o diA dos meus Anos", nostálgico, perfeito...*
Não conhecia essa lindeza de Fernando Pessoa. Amei!
Obrigada por compartilhar, valeu; foi um prazer ler-te.
Beijinhos/ Mery*

chica disse...

Que linda poesia e homenagem,Leninha!! beijos,tudo de bom,chica

manuela barroso disse...

Olá minha querida Leninha!

Com o resfriado até o Pessoa me fugiu!
Dia de anos. Pois...um dia que nem todos gostam de celebrar. E quem pensa no tempo, não aproveita os minutos.
Um texto que nos remete sempre ao passado. Nele estão as nossas memórias.
Parabéns pelo teu post minha querida amiga
Terno abraço

SOL da Esteva disse...

Parabéns pela Homenagem; na verdade, parabéns pela lembrança que, cá em Portugal, passou tão silenciosamente que nem se deu pelo evento ou celebração.

Beijos

SOL

Helena Chiarello disse...

Lindo demais!!
É tão comovente e bonito que chega a doer!
Coisa boa esse presente!!
Um beijo, Leninhamada!

Minha querida e linda sobrinha Marcela, A vida é uma eterna ciranda a nos conduzir prá lá e pracá... e em uma destas voltas viemos para Tere...

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